10 abril 2008



trata-se de duas concepções, ou melhor, de uma dinâmica desconstrucionista do n-1;
trata-se de não se confundir, numa tendência positiva, com a apropriação capitalística dos processos de construção de mundos através do conhecimento;

capitalístico aqui relaciona-se mais a uma abordagem antropológica, referencializada pelo deslocamento estruturalista da linguagem, que a uma abordagem sociológica ou da economia política marcadas por pressupostos positivistas e categorias tais como consciência ou história;

a forma de ação está pautada menos no grupo e mais na utilização que se pode fazer do grupo enquanto máquina abstrata ou inteligência coletiva;

mas não fica muito pessoal essa abordagem...
fica pessoal se se toma como referência a objetividade e a impessoalidade;
uma certa antropologia continuará indefinidamente voltando-se a uma concepção transcendental do mundo [e do conhecimento] e uma concepção histórica da sociedade;
ambas concepções marcadas pela matriz identitária da filosofia parmenideana e aristotélica apropriada pelo judaísmo e nosso protótipo de estado;

no entanto, quando se reformula essa imagem do conhecimento e se toma um modelo mais construtivista e menos representacionista, passa-se a tratar a coisa menos como uma relação de verossimilhança descritiva e mais de criação e exploração de linguagem;

a pergunta: mais aí não se impõe uma concepção de mundo para o outro...
a questão não é a de um relativismo indiferente, mas de uma indiferença...;
não se trata de negar uma construção para afirmar outra equivalente ou melhor;

trata-se de trabalhar sobre determinados dispositivos coercitivos de manutenção e padronização que operam em nossa sociedade; trata-se de desconstruir padrões valorativos próprios à nossa socialidade;
com isso, afirma-se a diferença, pois essa desconstrução não resulta em outras positividades, muito menos padronizadas;

os agenciamentos de enunciação também possuem essa mão dupla, pois ao encarnarem processos e produtos comunicacionais ou artísticos, não se visa concentrar no receptor e sim volta-los para os próprios produtores;
assim como víramos na relação professor/aluno, o foco se volta sobre o processo de agenciamento [criado pelos alunos ou interlocutores] mais que sobre os receptores;

a promoção de subjetivação opera com os estratos subjetivos que configuram os interlocutores, processa os devires moleculares e não as identidades molares [em bloco];
não se trata de reforçar a voz média, mas de convocar certos estratos dessa polifonia ou multiplicidade que compõe cada um de nós;
se há uma ecologia das idéias danosas como das ervas daninhas, trabalharemos enfocando essa ecologia, enfocando a cultura de subjetividades anti-capitalísticas, que possam inclusive [para além de cultivar sua própria multiplicidade] instrumentalizar-se de dispositivos de proliferação de multiplicidades;


portanto, colocar a antropologia em função da arquitetura, enfocar a arquitetura de uma perspectiva antropológica não se trata de relacioná-la às diversas culturas e buscar padrões identitários [em relação a si] ou mesmo diferenciais [em relação à nossa];
não que não se possa faze-lo, mas não é isso que nos interessa;


toma-se antropologia aqui não como disciplina da ciência régia, como saber-poder oficial de coerção;
toma-se aqui a antropologia mais como um ponto de inflexão na política do conhecimento e na prática de resistência com processos de subjetivação;

toma-se capitalismo aqui mais a partir de seus dispositivos de normalização e padronização subjetiva;
o problema não seria portanto o contato da sociedade ocidental com as demais, mas a ação desses dispositivos determinados;
essa ação pode ser verificada em relação às sociedades não-ocidentais, mas também foi incansavelmente a partir de sua constituição na própria sociedade ocidental;
o processo de diferenciação que define a cultura não se restringe a uma característica das sociedades não-ocidentais, nem tão pouco a sociedade ocidental poderia suprimir a diferencialidade;
o que ocorre é que sociedade ocidental definiu uma série de dispositivos determinados que operam processos de padronização subjetiva definidos;
seja na escola, no hospital, na igreja, nas prisões etc, esses dispositivos se articulam com a apropriação e configuração do espaço;

para o ensino da arquitetura deve-se enfrentar os valores que estão pressupostos nas formas de apropriação do espaço, que são sempre determinadas politicamente;

enfrentar os consensos valorativos;

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