15 abril 2008



indeterminação
hansen trabalha com a noção de indeterminação como chave não só para abrir portas na hermética obra prima de rosa;
a indeterminação põe em ação o antigo, ambicioso e inevitável projeto de ruptura da distinção entre literatura e crítica;
tema há muito explorado pela filosofia de nietzsche a deleuze, passando pelo conceito de discurso capital no pensamento de foucault, visando a supressão da idéia de uma diferença substancial ou de natureza, mais que de uso, entre essas diversas linguagens;
essa diferença estaria supostamente assentada numa relação com o referente, relação essa que vem sendo problematizada [extemporaneamente] ao longo de séculos de pensamento filosófico;
essa relação com o referente foi problematizada no pensamento contemporâneo [uso aqui a abordagem epistemológica de as palavras e as coisas de foucault] a partir da apropriação sistemática das idéias de saussurre e do formalismo russo, que se desdobrará nas apropriações do estruturalismo e do pensamento francês desse fim de século;

da ciência à epistemologia
o que ocorre é que o imaginário hermenêutico da representação, que cedeu na distinção entre a ciência e sua epistemologia, abrindo espaço para um espaço híbrido explorado por vertentes tão distintas do construcionismo [que por vezes resvalam de volta ao imaginário representacionista da hermenêutica ou da fenomenologia] como a complexidade de morin, as poéticas de bachelard, a teoria do enunciado de foucault, os platôs de deleuze/guattari;

não há como negar o caráter multidiscursivo de uma obra experimental como mil platôs que se dedica à explorar essas zonas de indiscernibilidade;
nesse sentido, a antropologia há muito tem oferecido um rico material que orienta a operação com os devires;
o xamanismo tem sido uma escola rica, onde linhas de fuga nos conduzem às margens de nossa episteme, a partir das quais o instrumental do xamanismo pode conduzir;
essa é a vantagem oferecida pela antropologia: ela possibilita a experiência com regras que estão fora ou nas margens de nossa episteme;

a concepção de linguagem exposta em mil platôs, que propõe a supressão de uma dimensão transcendente do referente, pensando a verbalidade como puro plano de imanência, possibilita imaginar o plano contínuo da discursividade, em que ciência e epistemologia, poesia e crítica, passam a uma relação de continuidade imanente [em lugar da descontinuidade transcendente que os diferenciava pela natureza do referente];
enfim, um campo em que os mais diversos usos da linguagem verbal não se distinguem substancialmente por uma suposta relação com o referente ou a realidade objetiva;

a diferenciação que se pode fazer aqui dificilmente poderá ignorar [até por conta de nossas referências] a noção de discurso elaborada por foucault;
trata-se de uma diferenciação nos termos de um campo de intensidade, uma diferenciação que se dê a partir da imanência dos discursos e não da transcendência dos referentes;
hansen, no entanto, para faze-la, se utiliza de um referencial próprio da teoria literária;

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