10 abril 2008



ecologia subjetiva

a ecologia subjetiva não se confunde com a ecologia natural;
elas podem se desvincular, ainda que se possa duvidar de sua eficácia, assim, separadas;

no entanto, para articulá-las, como em nosso caso e contexto, se faz necessário conhecer suas outras apropriações;
como no caso do ecologismo seringueiro apropriado enquanto movimento social organizado de trabalhadores pelo ambientalismo e por partidos políticos;
a fragilidade os movimentos sociais pós-ditadura os fez massa de manobra do período denominado redemocratização, caracterizado pelas políticas públicas em que se misturam discursos diversos, ou melhor, em que o discurso do estado coopta o dos movimentos sociais e é cooptado pelo mercado, que pauta sua eficácia enquanto enquanto empresa entre empresas;


o que me interessa sobretudo no projeto da apiwtxa [yorenka ãtame] é o processo de ecologia subjetiva;
plantar pessoas no árido campo da política subjetiva da região me parece ser o foco não só desse projeto, como de qualquer projeto ou ação a ser desenvolvida na região;

quando estive no processo de avaliação de vinte anos de reserva extrativista do alto juruá, junto aos monitores a reserva, fiz questão de problematizar o caráter assistencialista e as estratégias de integração desenvolvidas pelo estado;

o discurso da autonomia comunitária, dos povos tradicionais, da cultura extrativista, se dissipou para dar lugar a um projeto de submissão total à economia política local, aos projetos políticos de estado e o mercado que proporciona o consumo de produtos industrializados e a produção da pecuária predatória;

a autonomia, baseada na riqueza local, deu lugar a uma submissão e dependência, que tem por princípio a noção de miséria, a idéia de que os critérios de valor aplicados aos centros urbanos são os mesmos;

a escola me parece um pólo poderoso de reprodução dos valores urbanos que minam os valores locais;

ao afirmar os valores dos centros urbanos, a monocultura da mente, homogeneidade subjetiva, e escola se torna o espaço reprodutor dos valores próprios ao capitalismo, tais como a renda exclusivamente monetária, um modelo de mercado de trabalho urbano de que a política local se utiliza para os seus jogos de interesse;

a ecologia subjetiva não se volta contra o capitalismo devido ao seu caráter de reprodutor da desigualdade social;
a ecologia subjetiva não visa generalizar o consumo, lutar para que todos tenham o direito de consumir;

o alvo da ecologia subjetiva é outra propriedade do capitalismo;
consiste em seus processos de produção e reprodução de subjetividades capitalísticas;
contra essas passivas subjetividades de consumo capitalísticas, a ecologia subjetiva visa acionar agenciamentos de enunciação que proporcionem processos de subjetivação, por definição voltados à multiplicidade;


a ecologia natural está na mira para ser apropriada de vários lados;
a ecologia subjetiva também é assediada;
fala-se em jovens em situação de risco, preparação para o mercado de trabalho, afastamento da criminalidade entre outras abordagens voltadas ao mercado do assistencialismo;

a perspectiva depreciativa é típica do processo de apropriação do estado;
trata-se sempre de ter no horizonte a pseudo-normalidade conservadora que garante o bom andamento do mercado na ordem social;

os processos de subjetivação se posicionam contra essa ordem conservadora que se sustenta a base dessas subjetividades capitalísticas e seus processos de reprodução;
eles possuem no horizonte outras imagens;


a apropriação que o mercado faz [através do estado, através da legislação] dos conhecimentos tradicionais opera como no campo das subjetividades;
cria-se um campo de conhecimentos reconhecidos, fora do qual outros conhecimento não tem lugar;
esse campo legitimado da ciência, já devidamente ordenado em função do mercado, passa a reconhecer esse conhecimento e legitimá-lo para que possa circular no mercado, para que obtenha uma identidade para trafegar nesse circuito;

os referenciais convencionais [seja da ecologia natural, como dos processos sociais que envolvem a produção de subjetividades] conduzem à reprodução das subjetividades capitalísticas, pois seu discurso já foi apropriado;

pensar em termos de identidades, de assistencialismo, de mercado de trabalho, de renda monetária, enfim, e integração ao consumo e ao capitalismo é atitude conservadora;
não se voltar criticamente aos processos de formatação de subjetividades capitalísticas promovido pela política de interesses, confundidos quase sempre com a retórica da garantia de direitos, tais como, saúde ou educação, equivale a continuar tomando valores alheios para justificar o processo de homogeneização subjetiva típico do capitalismo que, mesmo quando promove a diversidade, está sempre visando a integração num circuito em que as subjetividades terminam por se equivaler na figura do consumidor;

não se trata simplesmente/exatamente de nossos termos serem impróprios para definir os processos de subjetivação;
trata-se de grande parte de nossos conceitos estarem determinados pelos campos em que eles se constituem e a função que devem cumprir no contexto de um conhecimento interessado;
essa refração é absorvida a partir da compreensão do problema epistêmico a que remonta essa abordagem subjetiva;
essa compreensão libera do pensamento histórico transcendental do século dezenove para uma apropriação prática dos devires via processos de subjetivação;

Visitor Map
Create your own visitor map!