10 abril 2008



certo que pretexto da pesquisa com os guarani seria, a princípio, a convivência com eles, estar com eles [captar] no demorado do corpo mais do que no imediato da mente;
mas o que me teria levado ao tema do ouvir, da aprendizagem perceptiva dos guarani em processo de iniciação, entre tantos outros temas que me manteriam igualmente convivendo com eles;

se o antropólogo é o xamã dos brancos, precisava entrar nesse mundo;
certo que se tratava da aprendizagem guarani, mas não podia me furtar a estar aprendendo com ela, a vivê-la como experiência;
essa dobra devia constituir-se numa entrada secreta do texto;


os imperceptíveis podem ser pensados como desdobramento da noção de outrem elaborada nos anos sessenta visando as abordagens intersubjetivas;

aqui a noção de mundos possíveis ganha uma especificidade perceptiva;
outrem abre a possibilidade dos imperceptíveis;

o devir opera com os imperceptíveis, por isso o devir imperceptível ganha projeção, ou os imperceptíveis ganham projeção no rizoma dos devires;

os devires se relacionam diretamente com a criação, com a criatividade;
toda a abordagem de mil platôs centra fogo na criatividade, em nossa capacidade, nos dispositivos que nos libertem pela criatividade;
estar na fronteira é antes de qualquer coisa possibilidade de criar outros mundos;
é estranho, a palavra criar aqui não parece apropriada;
eles usam a idéia de perceber;
penso que minha abordagem da noção de ouvir vai nesse sentido;
para os guarani, o campo semântico da audição fornece uma idéia de se subjetivar xamã, essa figura ambígua que pode ser líder, professor, curador, cantor, diplomata;

liberar a criatividade, estudar a capacidade de criação, a inspiração para escrever, para criar novos mundos;
mundo aqui está no sentido de leibniz;

nesse sentido é interessante voltar a levi-strauss via mil platôs;
levi-strauss em seus textos sobre xamanismo, redefine a imagem da antropologia e do antropólogo;
deduziu-se daí a figura do tradutor: se o xamã é tradutor, o antropólogo também o é;
parece que é contrário, mas fica invertido para uso de reflexão;


criar se relaciona a estar no limite da percepção: função atribuída ao artista, [e – também] comum tanto ao xamã, quanto ao antropólogo;

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