27 março 2008

vejo esses conhecimentos [escolar e tradicional] como forças, forças diversas;

não penso como o conhecimento escolar possa estimular o saber tradicional;

penso que o caso é mais o deste resistir, vencer a força daquele;

não vejo que o que enfraquece o universo indígena seja o simples contato com o mundo do branco e que a escola possa voltar a atenção para a cultura tradicional;

vejo a escola como a própria cultura do branco;

não vejo esses conhecimentos como conhecimentos de mesma natureza, ainda que não os considere incompatíveis;

não considero esses conhecimentos incompatíveis, embora não os considere como de mesma natureza;

há tempos me assusta a figura institucional do professor nas comunidades indígenas;

mas não paro por aí, pois para mim o problema é esse caráter de mercado de trabalho que impregna nosso conhecimento escolar;

essa força é nítida quando as pessoas consideram a escola como um unificador social, não compreendendo a multiplicidade inerente aos conhecimentos de sociedades diferentes ou de seguimentos sociais diversos;

esse trabalho e essa dificuldade não se restringe às escolas indígenas;

é um problema que tem sido enfrentado como problema da institucionalização do construtivismo;

muitas vezes parece um paroxismo sistêmico, pois essas escolas ou movimentos pautados na diferença, ou melhor, na multiplicidade, possuem princípios de resistência à homogeneização que consiste no fim último do estado;

um estado que promove a diferença acaba parecendo o núcleo do paroxismo;

especialmente quando nos deparamos com o paradoxo de professores indígenas, responsáveis por assumir o discurso competente da diferença, da inclusão e da diversidade oficiais;

esse professor enuncia a diferença, mas sua condição de funcionário do estado o prende à reprodução de padrões da sociedade ocidental;

colocar a escola como espaço em que a 'cultura tradicional' pode encontrar campo de ação e revitalização requer uma observação atenta dos elementos que compõem essa equação;

um discurso inócuo da diferença, desprovido de uma detida problematização política e dos conflitos inerentes a ela, pode não diferir de uma política assimilacionista;

por outro lado, resguardar-se sob o chavão da agência indígena, da vontade dos indígenas, do fato de ser isso ou aquilo que eles querem, consiste numa posição duvidosa quando seu papel é justamente o de ponderar e problematizar o que eles 'querem';

digo isso por conta de nosso papel de orientador técnico que deve estar a par das possibilidades, mas também dos limites do poder de ação da educação escolar indígena;

não creio que o nosso horizonte possa pautar-se no discurso da diferença e da diversidade feito pelo estado;

tomo como horizonte as práticas de resistência e seu caráter de processo de subjetivação;

pois a educação escolar indígena, mesmo com todo seu discurso da diferença e da heterogeneidade, pratica subjetividades de estado via escolarização e escamoteia essas subjetividades no mercado de trabalho latente e inerente na prática escolar;


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