resquícios de uma tradição eurocêntrica nos levam a ainda hoje não reconhecer a forma da rica criação poética dos povos indígenas;
eduardo galeano é dos poucos autores que reconhece essa omissão e busca tirar proveito criativo dela em suas obras;
nossas histórias culturais, nossas perspectivas literárias não fazem qualquer referência à rica efervescência cultura que se vivia entre uma diversidade de povos e culturas com a complexidade de seus ritos, suas construções tradicionais, suas iniciações, seus cantos e danças, sua arte indumentária e plumária;
parece mesmo que ao assumirmos a literatura catequética como nossa gênese literária, herdamos automaticamente seus preconceitos, em que se via essas manifestações como cultos pagãos e demoníacos que se deveriam extinguir o mais rapidamente sem deixar vestígios, tal como em nossos manuais literários;
é assombroso o completo silêncio sobre a vida cultural selvagem, com e eles não tivessem cultura ou como se esse material fosse especialidade da antropologia;
mais assombroso são os parcos comentários da literatura jesuítica como referência única, quando se sabe que tão poucos eram os padres e tantos os indígenas;
a impressão que se tem é de ausência, como se não houvessem pessoas no novo mundo ou como se essas pessoas não produzissem cultura;
justifica-se a ausência pela ausência de escrita;
argumentos ou justificativas não faltarão enfim para
sem dúvida, trata-se de uma questão política: os indígenas ainda não viraram material de estudo para a arqueologia;
eles persistem aí, como se para que continuássemos a estranhar nossa condição colonial, por mais que subjetivemos tão bem à maneira da metrópole;
realizar um estudo que vise trabalhar não o material catequético, mas o que há nele de resquício dos satânicos costumes e dos bárbaros paganismos;
mas também compilar o que se faz hoje, o que se produz;
uma abordagem desse material requer uma crítica veloz das noções de arte aplicadas a esse contexto;
pois não me interessa falar da arte com seus circuitos, mas de processos de subjetivação [anti-capitalistas];
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