27 março 2008

resquícios de uma tradição eurocêntrica nos levam a ainda hoje não reconhecer a forma da rica criação poética dos povos indígenas;

eduardo galeano é dos poucos autores que reconhece essa omissão e busca tirar proveito criativo dela em suas obras;

nossas histórias culturais, nossas perspectivas literárias não fazem qualquer referência à rica efervescência cultura que se vivia entre uma diversidade de povos e culturas com a complexidade de seus ritos, suas construções tradicionais, suas iniciações, seus cantos e danças, sua arte indumentária e plumária;

parece mesmo que ao assumirmos a literatura catequética como nossa gênese literária, herdamos automaticamente seus preconceitos, em que se via essas manifestações como cultos pagãos e demoníacos que se deveriam extinguir o mais rapidamente sem deixar vestígios, tal como em nossos manuais literários;

é assombroso o completo silêncio sobre a vida cultural selvagem, com e eles não tivessem cultura ou como se esse material fosse especialidade da antropologia;

mais assombroso são os parcos comentários da literatura jesuítica como referência única, quando se sabe que tão poucos eram os padres e tantos os indígenas;

a impressão que se tem é de ausência, como se não houvessem pessoas no novo mundo ou como se essas pessoas não produzissem cultura;

justifica-se a ausência pela ausência de escrita;

argumentos ou justificativas não faltarão enfim para

sem dúvida, trata-se de uma questão política: os indígenas ainda não viraram material de estudo para a arqueologia;

eles persistem aí, como se para que continuássemos a estranhar nossa condição colonial, por mais que subjetivemos tão bem à maneira da metrópole;

realizar um estudo que vise trabalhar não o material catequético, mas o que há nele de resquício dos satânicos costumes e dos bárbaros paganismos;

mas também compilar o que se faz hoje, o que se produz;

uma abordagem desse material requer uma crítica veloz das noções de arte aplicadas a esse contexto;

pois não me interessa falar da arte com seus circuitos, mas de processos de subjetivação [anti-capitalistas];


Visitor Map
Create your own visitor map!