27 março 2008

rastros do colonial

para uma antropologia indígena formulada a partir de uma escola indígena

talvez seja inerente à abordagem do conhecimento ocidental feita pelos indígenas em ambiente escolar de certa antropologia;

assessoria: uma perspectiva

para abordar a escola indígena na condição de assessor, talvez o meio seja mais o de uma antropologia indígena dos conhecimentos ocidentais, em que se busque formas de se voltar um olhar indígena [olhar indígena: subjetividade, valores, condição, etc tudo o que possa ser aproveitado na constituição da perspectiva desse personagem conceitual da literatura da educação escolar indígena que pode ser o professor, o estudante ou a comunidade detentora da tradição] sobre a experiência ocidental;

a intenção inicial, no contexto que já descreveremos, consiste em operar numa perspectiva relacional [índio/branco], por isso uma antropologia elaborada a partir dos problemas e soluções próprios ao cotidiano da escola indígena;

a intenção é a de enfocar a perspectiva indígena sobre problemas cotidianos enfrentados na escola branca como as diferenças sociais, o mercado de trabalho, a condição colonial;

em suma: concentrar essa antropologia sobre situações de conflito, igualmente relacionais do universo branco, enfocando principalmente questões de civilização, capitalismo e outras que enfatizem a diferença social em detrimento de pseudo-homogeneidades auto-imaginadas por essa civilização;

para tanto, a condição colonial brasileira pode fornecer interessante modelo experimental;

o interesse dessa temática nessa problemática deve-se às ambigüidades e interpenetrações que o tema proporciona devido à condição do brasileiro;

quando se trata a questão do colonialismo que atravessa e assola a história do país, a figura do brasileiro se constitui como figura híbrida;

de um lado, em oposição ao nativo da terra, que compõe o seu corpo somente a partir do amansamento da diferença e da integração da alteridade;

de outro em oposição ao europeu de quem herda o estado, campo da ordenação interna e do controle externo pelo mercado;

interessante como essa condição do brasileiro passa a se esclarecer a medida que se sai do brasil para outros países latinoamericanos em que a indigenidade não sofreu o processo de higienização étnica sofrida no brasil e nos quais o combate político contra a neo-colonização globalizada [os desdobramentos da colonização] das ditaduras teve na subjetividade indígena [diferentes do brasil] um forte ponto de apoio;

pelo contrário, sabe-se que a ditadura militar no brasil e sua ideologia desenvolvimentista impactaram de forma inédita, devido à potência tecnológica e aos empréstimos, o entre-espaço pré-histórico em que se refugiavam da integração civilizacionista os povos indígenas;

o contexto referido é o de um quase absoluto etnocentrismo associado à escola e aos seus desdobramentos [mercado de trabalho, salário, civilização etc], etnocentrismo esse que elide qualquer possibilidade de afrontamento dos conhecimentos indígenas [e seus processos próprios de subjetivação] aos conhecimentos ocidentais [e as velhas fórmulas subjetivas que lhe são acessórias];

essa elisão não se restringe ao afrontamento, dinâmica que proponho para essa relação entre conhecimentos, ela faz sumir do mapa a própria noção de conhecimento indígena;

problema relativo: não se reconhece o conhecimento indígena como matéria de escola, substância a ser apropriada pela escola;

a princípio o espaço escolar é visto como espaço exclusivo do mundo branco;

indigenizar esse espaço será a solução proposta pela educação diferenciada;

proposta tão bem acolhida oficialmente que nos dá a chance da desconfiança;

escola como espaço curricularmente harmônico entre conhecimentos de branco e saberes indígenas ou cotidiano indígena;

em primeiro lugar não sei se estou bem certo quanto ao consenso ou consensualidade em torno da noção de saberes indígenas que utilizamos;

será que ela pode ser produzida positivamente para posar ao lado dos saberes ocidentais;

por isso pensar em propor uma dinâmica mais combativa na relação ou simetrização desses conhecimentos;

talvez se perca tempo projetando subjetividades quando se pode criar a partir do material existente;

a permissividade indígena é menos uma característica de bom selvagem que um experimentalismo subjetivo tão explorado quanto mal utilizado pela antropologia brasileira contemporânea;


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