12 março 2008

mais de mim buscar uma dimensão imanente no problema dos cantos [desde sua execução até seu recebimento] como processo iniciático do xamanismo guarani conduziu-me ao regime perceptivo e suas entradas pela psicologia;
a abordagem da percepção pelos platôs [deleuze-guattari] e pela concepção do trágico [nietzsche] interessou-me mais que a abordagem positivista da psicologia em geral;
o caráter estético, constitutivo ou autopoiético da percepção parecia estar mais de acordo com a experiência de pesquisa que estava vivenciando;
concentrei-me na concepção, capital para a cultura guarani, de ouvir;
essa concepção rebatia no material analisado e se dobrava sobre a pesquisa;
seja porque concebia [em parte] a pesquisa menos como descrição positiva e mais como criação literária, seja porque suprimia a distância entre a voz que falava no texto de uma voz guarani;
tratava-se, de uma lado, de uma apropriação da linguagem, e de outro, de processos de subjetivação;
os limites interpretativos da hermenêutica não encontrara um concepção de linguagem condizente com o devires de que precisava dar conta;
precisava de um construtivismo senão mais radical, pelo menos mais explícito;

daí cheguei, por uma preciosa indicação de ana vera, que me ouviu falar dos problemas com que me debatia e me passou o artigo pequenos xamãs, de sua irmã aracy;
li e reli e passei a explorar as referências;
foi assim que cheguei ao clássico artigo de setenta e nove de seeger e viveiros de castro sobre a função da corporalidade na construção da pessoa ou nos processos de subjetivação da américa indígena;

daí também que pude penetrar com mais finura no perspectivismo;
como o jogo de vozes ou regime de enunciação já era um problema bastante presente pra mim desde a graduação, quando os estudos do dialogismo e da polifonia em bakhtin marcaram minha formação em teoria literária, também na antropologia não eram novidade por meio das obras de clastres, que me deixaram atento para os jogos enunciativos como para o uso que eles poderiam ganhar na composição/constituição do texto etnológico;

como já penetrara na corporalidade da subjetivação, precisava desdobrá-la na escritura do texto;
transformar a pesquisa numa jornada existencial que se inclui minha vinda para a amazônia acreana e intensificação da experiência antropológica como forma de formação contínua e exercício profissional;
esta experiência precisava então encontrar vazão em agenciamentos de enunciação que se configuraram com a atuação docente e de orientação de monografias, bem como nas experiências de campo junto às reservas extrativistas chico mendes e alto juruá [e também com as experiências junto aos ashaninka do rio amônea];
as parcerias de pesquisa [grupos de estudo] constituíram um valoroso plano de imanência para se espalhar conceitos e criações sobre realidades vividas e outras experiências;
nisso a atuação junto ao núcleo de antropologia e floresta da ufac, ao lado da antropóloga mariana pantoja foi seminal;

o caráter prático ou militante dos estudos de subjetivação tem marcado seriamente as últimas experiências, já aqui na região da bacia do juruá;
seja na atuação junto ao coletivo feminino indígena sitoakore na construção de alternativas endógenas [tomando então por modelo o pluralismo jurídico] para conter a violência contra a mulher, seja no trabalho desenvolvido junto aos detentos da unidade de reabilitação social de cruzeiro do sul, utilizando o teatro e a produção áudio-visual como processos de subjetivação;

em ambas experiências os processos de subjetivação [para se constituírem enquanto tal] são precedidos de um afrontamento aos valores sociais e seus padrões recorrentes [em cada caso a sua maneira] do tipo genealogia da moral, o que define a abordagem antropológica do processo;
isso para distinguir o processo apropriado de qualquer proteção sob identidades ou contra-identidades ressentidas e/ou vitimizadas próprias à abordagem marxista;



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