12 março 2008

foto de josé ribamar
subjetividade e linguagem
dando a volta
o que conduz ao problema da subjetividade é o conflito discursivo que leva à ponderação da natureza política da antropologia numa civilização constituída por processos de colonização;
a forma como esses processos de colonização foram escamoteados em democracias participativas constitui na outra dimensão do problema da antropologia que se define como agente da emancipação e autonomia dos povos indígenas enquanto em seu plano de imanência estende aos dias que vêm a velha política integracionista;

a questão passou a ser levantada com o problema epistemológico a que fomos conduzidos com o esgotamento do positivismo e do método histórico;
a genealogia dos valores evidenciou o etnocentrismo colonialista sob o qual se erguia a sociedade moderna;
política e conhecimento conheceriam com a crise epistemológica relações cada vez mais complexas;
o estado continuou se utilizando dos saberes-poder como ciências neutras e ainda hoje explora essa imagem de uma ciência votada ao bem da humanidade;
o mercado do mal necessário continua a ser expelido enquanto parte maldita;

no seio do debate epistemológico se coloca a questão da ética discursiva em relação aos povos que se tornaram objeto da antropologia nesse contexto da civilização global colonialista;
detemos os espaços, os campos em que se produzem e reproduzem as subjetividades;
o problema do falar como expressão da subjetividade é o problema dos agenciamentos de enunciação;

fechamos cada vez mais o cerco em que se expressam essas subjetividades excêntricas, essas subjetividades que escapam aos centros de convergência da monocultura da mente;
fecham-se os circuitos nas subjetividades determinadas, delimitadas como referência de valor [consumo];
por outro lado, a parte maldita cumpre a função de delimitar e controlar mais rigidamente, com suas forças de má consciência, os limites da anormalidade;

pecador e culpado: essa velha fórmula da psicologia do padre funciona bem marcando os limites de um sistema único de valores;

do problema discursivo para o problema subjetivo;
da forma como cercamos os espaços discursivos, definimos suas regras, delimitamos seus circuitos, estabelecemos também os fluxos de subjetividade convergindo-os para um centro de referência moral;

afirmar a diferença e a multiplicidade;

focos de resistência subjetiva não podem ser confundidos com macrocategorias sociológicas [tais como tipos sociais ou atores sociais];
não se trata da autenticidade ou falsidade de tais macrocategorias, trata-se mesmo de todo o circuito em que elas se sustentam [e aos quais dá sustentação], bem como dos pressupostos que ela projeta para além de si;
índio consiste antes num foco de resistência subjetiva que numa identidade;
quanto mais facilmente se identifica alguém como indígena, maior o controle [social] subjetivo do estado;
há um nomadismo e uma espionagem [um devir imperceptível] nesse foco de resistência que a faz repelir toda vontade de identidade;
mesmo [e porque] a identidade seja valorizada pelo mercado como pelas políticas públicas;

trabalhar com tais focos de resistência pode ser confundido com o combate que se faz a eles;
o trabalho da antropologia se define talvez por essa ambigüidade entre lidar com os selvagens, ou melhor, lidar com a linha inalcançável da selvageria, onde esse selvagem sempre se amansa e a lança para mais longe;

mas como esse amansamento pode ser uma subversão da linha;
como ver a diferença nesse processo de homogeneização generalizada;
pois vê-la consiste em expressá-la e expressá-la consiste em constituí-la;



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