22 fevereiro 2008

tradições
associar a tradição a um passado inflexível e imperativo;
nossa concepção substancialista de cultura, que faz do ser a imagem da cultura, restringe a tradição a um passadismo;
somando isso ao ortodoxismo desse pensamento, direciona-o a uma busca por um passado perdido, uma cultura do resgate, da essência perdida;
essa moeda cunhada agora em nosso pensamento funciona em nosso sistema, perdendo o caráter de devir que caracteriza o sistema no qual ela tinha circulação;
a imagem da tradição como um sistema que faz frente ao nosso e se reconstitui constantemente segundo suas leis, o que chamamos de cultura exatamente por ser um cultivo nesse solo, não bate com a imagem de um produto pronto a ser comercializado, a circular no mercado de subjetividades, um bem que se possui ou não possui, que se valoriza segundo a sua pureza ou impureza étnica ou biológica;

é dessa forma que a tradição é pensada como uma substância, essencializada;
assim que se transforma em tradição a violência contra a mulher e outras práticas, por associa-las ao passado, presas à tendência evolucinista de nossa imaginação, que organiza também linearmente a disposição histórica do tempo no atual pensamento indígena;

a tradição, apesar de ser pensada sempre na dinâmica do antagonismo em relação à ocidentalidade, não ganha valor a partir dessa relacionalidade;
ao contrário, da mesma forma que fazemos com a nossa cultura auto-referencial e etnocêntrica, eles fazem ao acionarem seu conceito de cultura (que é o nosso conceito de cultura aplicado à sua cultura respeitando o circuito da nossa própria cultura: categorias);
portanto, a relacionalidade (em lugar de assumir sua dinâmica de simetrização e distintibilidade) é apropriada para fixar um eixo que transpõe valores da nossa cultura para o outro imaginário;
esse outro imaginário é o índio genérico, cria de nossa própria imaginação conceitual;
a relacionalidade (e a revolução copernicana que ela impulsiona) leva a imaginação a um perspectivismo, a partir do qual o que se distingue são os sistemas de sentido e não seus funtivos;



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