11 fevereiro 2008

caçadores

'[...] na verdade, essas teorias [as ciências sociais e psicológicas, ou o campo do trabalho social] servem para justificar e legitimar a existência dessas profissões especializadas, desses equipamentos segregativos e, portanto, da própria marginalização de alguns setores da população; as pessoas que, nos sistemas terapêuticos ou na universidade, se consideram simples depositárias ou canais de transmissão de um saber científico, só por isso já fizeram uma opção reacionária; seja qual for sua inocência ou boa vontade, elas ocupam efetivamente uma posição de reforço dos sistemas de produção de subjetividade dominante'

(guattari e rolnik, micropolítica; cartografias do desejo)


trata-se de definir a dimensão inconsciente (interpretativa) da educação e da política de estado;

considera-se como pressuposto a noção de consciente a partir de deleuze e guattari de mil platôs;

essa noção é tomada como contra-princípio para a definição de uma esquizoanálise;

a noção clássica de inconsciente ou suas interpretações servem de contraponto não só para uma nova imagem da psicanálise, como a uma esquizoanálise do conhecimento e da socialidade que o implica;

nosso pressuposto psicanalítico, a imagem da psicanálise remete menos a uma crítica direta à psicanálise (o que seria aqui despropositada), e mais ao modelo social de conhecimento que a contextualiza, a socialidade epistêmica que ela encerra;

o inconsciente justifica o psicanalista em sua interpretação, a busca de um sentido pré-estabelecido, próprio ao passado do psicanalisado;

na educação não é difícil transcriar/traduzir o processo interpretativo que justifique a figura/posição do professor;

o psicanalisado é o estudante, a instância pressuposta é a coisa em si que sustenta a epistemologia de estado da ciência régia, a qual ocupa o lugar do inconsciente;

a patologia do estudante é o não-saber, somos todos doentes de ante-mão;

a ruptura com esse esquema doentio é a proposta de uma esquizoanálise;

uma educação centrada nos processos de subjetivação, em que os estudantes assumam a produção de sua subjetividade, em lugar de ensaiar para se colocar à disposição da produção de subjetividades do mercado e do estado;

essa será uma esquizoeducação, nome que não pega bem (por causa do -educação e não do esquizo-), podendo ser revisto como esquizoaprendizagem, contra-educação ou mesmo esquizoanálise;

essa proposta opera centrada nos agenciamentos de enunciação, quando os estudantes deixam o espaço interpretativo da sala de aula, para compor um espaço laboratorial de pesquisa: pesquisas de histórias de vida, conhecimentos locais e outras formas de heterogeneidade;

a dinâmica interpretativa fornecerá importante contraponto para a proposição de referências outras;

enfim, as mais diversas experiências que visem opor-se às generalizadas identidades mais facilmente reconhecíveis, as quais são responsáveis pela ênfase valorativa em certos perfis identitários, delineando o padrão/modelo de etnia, de família, de beleza, de consumo etc socialmente valorados;

essa forma de reconhecimento e conseqüente contraponto aos padrões, (visto que esses serão logo identificados como fonte de posturas sociais tais como auto-negação (baixa auto-estima), preconceitos, consumo desenfreado etc) constitui a própria metodologia do processo;

agenciamentos de enunciação nos permitem uma exploração dos meios expressivos sem ater-se excessivamente às propriedades de um único meio;

não se trata de prender-se à autoria ou à pesquisa, visando definir pedagogias;

o caráter experimental das linguagens (na construção de conhecimento) pode traduzir o que se chama de agenciamentos de enunciação;

trata-se de permitir aos atores a liberdade na pesquisa com linguagens, disponibilizando ao seu alcance um gama de linguagens;

essas linguagens geralmente não estão associadas ao conhecimento, geralmente identificado com a linguagem verbal escrita;

não se pensa que a fotografia pode ser ponte para o estudo dos valores, o teatro para o emprego de conceitos do associativismo, composição de músicas, produção de entrevistas em linguagem radiofônica como forma de pesquisa, o vídeo para a abordagem de experiências pesquisadas ou realizadas;

os agenciamentos de enunciação propõem assim um deslocamento na figura do mediador, ainda bastante associada ao professor;

este tem suprimida a função de intérprete do inconsciente (plano de transcendência) para assumir um papel de orientador, de proponente de atividades de esquizoanálise a serem pesquisadas (plano de imanência) pelos próprios atores;

proposta articulada a essas, também na esteira dos agenciamentos de enunciação, é a do agente multiplicador, do protagonismo dos atores no processo de aprendizagem, segundo a qual se visa à apropriação no processo dos atores formados;

inicialmente estes ocuparão a função de assistência aos mediadores, visando futuramente a posição de formadores (ainda que informais por impedimentos legais);

portanto, a própria posição dos mediadores se torna função do processo;

note-se que esse construcionismo não se trata de um construcionismo clássico, de variações culturais sobre os mesmos objetos, consiste sim num construcionismo da constituição de sujeitos ou dos processos de subjetivação;


Visitor Map
Create your own visitor map!