21 janeiro 2008

obra de jorge rivasplatasubjetivações 3
aliança dos povos da floresta
um exemplo consiste na aliança dos povos da floresta, motivada pela política hostil do governo em relação aos extrativistas e aos indígenas, assim como pela violenta política local, marcada pelo seringalismo;
segundo os estudos que tenho feito sobre a região do alto juruá, os seus movimentos sociais, as experiências de gestão territorial indígenas, tudo isso segundo nossa abordagem, nosso referencial teórico, a aliança dos povos da floresta consiste numa experiência paradigmática de subjetivação, aquilo que buscamos contrapor a concepção de identidades;
nesse movimento de aliança entre índios e seringueiros propõe-se uma política enfocada no elemento étnico, na relação entre índios e brancos, na problematização da categoria seringueiro ou extrativista, categoria ao mesmo tempo étnica, econômica, política;
projetos de gestão territorial são traçados coletivamente e algo interessante ocorre: os índios têm algo a oferecer aos brancos, um modelo de organização espacial que pode dar origem a políticas públicas ambientais;
momento ímpar na história dos movimentos sociais, os indígenas propõem, no contexto do surgimento do ecologismo, um modelo de gestão territorial, o qual daria origem aos planos de uso e aos planos de manejo;
no entanto, depois da conquista do reconhecimento legal o projeto de gestão da reserva toma outro rumo, quando se decide por retomar a organização em torno do caucho, da aliança com a indústria da borracha, agora sob coordenação as cooperativas de seringueiros;
um segundo momento que será propício ao pensamento da subjetivação, trata-se de vinte anos depois, quando um dos grupos mais importantes na criação da primeira reserva extrativista do brasil, os milton, passa por um processo de indigenização, retomando seus traços étnicos e assumindo legalmente sua herança ancestral;
esse não se trata de um ressurgimento étnico como tantos outros, geralmente motivados por questões territoriais em que se faz necessária a garantia de território através do amparo legal do estado;
esse movimento de etnicização se dá num contexto de avaliação dos quase vinte anos da política de gestão territorial da reserva extrativista do alto juruá e a constatação de sua fragilidade, ou melhor, de sua apropriação por outros partidos no contexto das disputas políticas locais;
mais que nunca, a reserva passa a fazer parte do município de marechal taumaturgo, o que se ouve freqüentemente;
enfim, toda a problemática política, ainda não analisada pelo viés da subjetivação, nos permite situar a questão dos processos de subjetivação na região que de um lado se dão maciçamente no sentido de uma urbanização do imaginário, em que moradores da floresta, famílias inteiras da reserva extrativista assumem, tanto abertamente, como das mais implícitas formas, os valores da cidade;
já, de outro lado, o que se tem são dois processos concomitantes: de um lado a etnicização dos kuntanawa, que, por se tratar, volto a afirmar, da família de seu milton gomes, figura central, junto a seus filhos, no processo de constituição da reserva, tem projeção específica no quadro dos processos de subjetivação locais aqui traçados, e de outro a experiência ashaninka do centro yorenka ãtame, centro de pesquisas ashaninka situado na região que visa aprofundar e projetar para comunidades da reserva suas experiência de manejo, resultado de seu processo de gestão territorial nas últimas duas décadas;
a referência criada pelo centro ashaninka consiste numa das mais importantes experiências de processos de subjetivação da amazônia por uma série de fatores tais como: resultado de duas décadas de gestão territorial voltada à sustentabilidade, a chave da pesquisa que possibilita a produção de ciência e tecnologia florestal e uma questão fundamental: uma iniciativa própria de uma organização indígena oferecer um serviço à sociedade não-indígena;
para um estudo da subjetivação, dos processos de subjetivação, essa iniciativa é paradigmática, até por que ela coloca em xeque os recursos de um pensamento da identidade;
além do mais, essa experiência permite desdobrar as experiências de gestão territorial trazidas pelos índios de suas aldeias para o pequeno centro urbano nos termos de uma ecologia social e de uma ecologia da mente ou ecologia subjetiva;
essa ecologia subjetiva consiste a criação de referências subjetivas diferenciais, que vem se contrapor às referências homogeneizantes da formação técnica que constitui o horizonte da sociedade ocidental, mesmo em uma comunidade na floresta (além da escola que consiste no motor de transformação das comunidades, outros fenômenos importantes são o governo, a televisão ou as comunicação e seus veículos de massa, o mercado de produtos industrializados, o favorecimento do comércio em detrimento do agroextrativismo);
a ecologia natural, que se refere aos processos vivenciados nos laboratórios de manejo promovidos pelo centro de pesquisas se desdobra em um fenômeno social e num fenômeno subjetivo que poderia ser pensado como uma recuperação da identidade do extrativista, em crise pela persistência de um outro regime econômico e um outro sistema de valores associados a um outro modelo identitário;
não vejo sentido em marcar assim a subjetividade, em substancializa-la, enquanto uma economia da produção subjetiva parece fazer mais sentido;
algo se recupera com esses processos (etnicização ou capacitação de agentes agroflorestais), uma identidade em crise ou em transformação? talvez;
novas subjetividades, resultantes de processos de subjetivação definidos a partir das experiências de gestão comunitária;

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