26 janeiro 2008

raquel no palco


distintibilidade no perspectivismo 4

essa é a ruptura com um imaginário da tradutibilidade, no qual se mantém irredutível a imagem de um sentido transcendente que se constitui como referência, não permitindo aos meios de expressão se constituírem como referência primeira;

manter-se nesse imaginário da tradutibilidade sem dúvida é uma medida de cautela, quando a tendência dos meios de expressão, desde que referência primeira, é arrastar-nos para outros campos expressivos, ruindo os espaços seguros da objetividade positiva de nossa tradição;

construir máquinas de guerra consiste na investigação da distintibilidade no que ela possui de discursividade, ou seja de teor irredutivelmente político, dado que o problema da forma se dá a partir da problematização do discurso, essa dimensão política inerente ao conhecimento ou do essa dimensão de afirmação/expressão de realidades inerente à política;

desde que se tome por discursividade seu caráter inerentemente estético que torna indiscerníveis os velhos campos tão bem definidos que distinguem ciência e poesia, literatura e conhecimento;

por isso a pesquisa da distintibilidade se na chave da produção, da criação a partir do conhecimento outro, dado que o atrativo pelo discurso explicativo ou descritivista da etnologia pode ser desde então passível de desconfiança, como antes o era a forma literária ou poética;

a etnologia passa a considerar benvinda a presença dos virtuais própria da literatura, sem perder o rigor etnográfico que fundamenta a pesquisa e a produção;

a descrição visando o modelo, a uniformização perde-se enquanto referência central;

trata-se de explorar recursos expressivos liberados/acionados com a imaginação desse pensamento;

não se trata de responder às questões do estado, horizonte que então dá forma aos problemas da etnologia científica;

as questões vem agora de outras ordens, obedecem a outros critérios;

uma teoria da tradutibilidade, por mais que procure levar ao limite a diferença irredutível de dois códigos, seu horizonte de trabalho é a conversibilidade, sua tendência é para a identidade comum;

certo de que não podemos deixar nossa posição relacional de tradutor desde que esta esteja associada a nossa condição de ocidentais, podemos, no entanto, imaginá-la segundo outras imagens do conhecimento que não estejam determinadas pelo horizonte comum da consensualidade;

a consensualidade que caracteriza a tarefa do tradutor opera na chave da identidade, marca lógica de nosso pensamento objetivista, de nossa ontologia representacionista;

trabalhar na chave da produção de sentido, na criação de conceitos que devam ir além de sua categorialidade modelar, idealista;

pois, no caso, ao traduzir essa linguagem outra, nosso idioma deixa de ser o mesmo e essa diferencialidade é o que nos interessa, mas troquemos essa imagem do tradutor pela do artista plástico que produz peças que ainda deverão encontrar significação, que deverão criar sua significação que seja na forma de eventos, de situações políticas, de vivências;

uma arte feita para um mundo, para experiências que ainda estão por vir e não em experiências passadas ou memórias como a arte representativa (a qual a imagem da tradução se mantém presa, determinada);

outro ponto a ser trabalhado na distintibilidade consiste em sua propriedade de operar com diferenças irredutíveis, que se configuram na imagem dos infinitesimais, de linhas que tendem ao infinito sem se convergirem efetivamente;

para isso, converge-se sobre a concepção de discurso tal como definida por foucault em sua teoria dos enunciados da arqueologia do saber;

a propriedade mimética de imitar perde todo sentido quando se suspende o caráter representativo da linguagem;

pois é a representação, a qual sustenta nossa configuração ontológica dividida em mundo das palavras, da mente, da subjetividade e mundo das coisas, da matéria, da objetividade, que dá sentido à imagem da literatura como arte da mímese, da imitação;


o que significa operar no horizonte de diferenças irredutíveis?

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