26 janeiro 2008

a exterioridade da máquina de guerra

se a máquina de guerra se define pela exterioridade em relação ao estado, o problema da etnologia dificilmente poderá esquivar-se de tais máquinas;

a não ser que essa etnologia se assuma a partir do centro ou, melhor dizendo, se generalize (e se oculte) como aparelho de estado, generalização que é típica de uma ciência régia ou ciência 'maior';

nota: a generalização, e conseqüente ocultação, no sentido tanto de um homogeneização que conduz à indiferenciação, à neutralização do diferente/distinto, como de uma ocultação posta no plano de transcendência, aquele que dá a perceber sem se deixar perceber (função a ser neutralizada pela genealogia, que opera definindo recortes em tais campos homogeneizantes, circunscrevendo tais estratégias de uniformização típicas do estado e de sua ciência positiva);

dessa perspectiva de estado, assume para si os problemas de interiorizção desses marginais ou dessa exterioridade que sempre assombra o estado, ao mesmo tempo que lhe dá sentido;

enquanto ciência 'menor', pensamento nômade, a etnologia é a ciência da exterioriade e, portanto, das máquinas de guerra, por excelência;

criar perspectivas de fora para se voltar contra essa unidade interna que caracteriza o estado;

projeto que deve assumir e recriar os mecanismos de resistência típicos dessa exterioridade;

o estado se caracteriza pela unidade e a homogeneidade que conduzem a ciência régia (inclusive na etnologia) à redução do outro ao mesmo (seja pelo pensamento, fazendo do outro objeto, seja pelas leis, em que o outro se reduz a cidadão, o qual o antropólogo advogará);

nisso o antropólogo de estado pode ser imaginado como o antropólogo advogado, especialista nas leis, em fazer com que se dê seu cumprimento;

o antropólogo contabilista, que pragmático passa a contabilizar os ganhos de seus clientes;

é dessa forma que se perde a noção desse fora que essas sociedades marcam, para constituí-las como sociedades incluídas;

em uma situação como esta, o discurso assistencialista não se furta a socorrer, alegando que melhor será assim do que deixando essas sociedades por sua conta contra os (seus inúmeros inimigos) os inúmeros riscos de uma sociedade capitalista;

uma das maiores fontes de inspiração, melhor dizendo, fonte de perspectivas para a ciência nômade tem sido a exterioridade que caracteriza essas socialidades marginais estudadas pela antropologia (inicialmente para reduzi-las ao mesmo, cumprindo a função de ciência régia e aparelho de estado);

o caráter de ciência das diferenças próprio à antropologia conduziu-a a uma crise de identidade e ao estranhamento em relação ao seu próprio corpo (sua metodologia, sua linguagem, sua lógica, sua função) e, daí à procura de seus próprios meios de expressão;

não se restringir a pensar a diferença (com um aparato e uma lógica, princípios e fins marcados pela identidade característica do estado) mas redefinir esse pensar como a construção de instrumentos próprios ao pensamento da diferença, de meios, de recursos que redefinissem o próprio pensar, o que se entende por pensar, visto que o próprio pensar estaria determinado como função de estado;


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