02 dezembro 2007

nietzsche não se mantém circunscrito aos pressupostos da tradição, ou da tradição forjada por sua época;
encontra uma saída, saída que não deve ser simplesmente declarada, pois ela se trata de fazer aparecer aquilo que é oculto no discurso, na perspectiva positivista;
a apropriação política do homem, do pensamento, sua apropriação pelo estado, sua neutralização, sua redução ao espírito gregário e reacionário;
como a própria filosofia está envolvida nesse processo com seus conceitos e personagens conceituais de estado;
noções como consciência e outras que visam assegurar uma forma para o sujeito projetado pelo estado e seu espírito gregário;

ele objetiva dar a perceber o plano de imanência, redefinir a filosofia a partir desse plano, acentuando o que há nela de literário, afastando-o de seu ímpeto pela mímese, sua vontade de saber guiada pela metafísica à identidade com qualquer mundo pressuposto;
o discurso como força de constituição desloca o fundamento representacionista com que a filosofia reacionária define sua história, sua tradição;

ele não segue a tradição dos modelos, encaixando-se no interior do discurso filosófico;
apropriando-se da perspectiva artística para imaginar o conhecimento e o próprio homem: sua subjetividade não como consciência, forma inaugural com que a razão concebeu o homem como sujeito transcendental em lugar do ética grega da estética de si definida por nietzsche como trágico a partir do místico dionisismo da arte dramática;

descortina o que há de reacionário nessa forma do pensamento representacionista que visa definir o ser, a consciência, os valores, a natureza e as demais imagens da verdade pautadas na transcendência de um discurso que visa menos que criar, conservar em formas determinadas utilizando-se para tanto da máquina de produção de verdades que se torna a ciência;
por isso criar se torna o movimento do pensamento aqui, para inclusive mais a frente suprimir o próprio pensamento como instância intermediária à criação;

máquina de conservar torna-se a razão da tradição metafísica a que remete a filosofia socrática;
escapar a essa imagem da tradição, a essa 'história', nisso consiste o mote do pensamento em que resulta essa obra, traçar mapas que possibilitem encontrar outras tradições, operar a criação de novos precursores para os futuros possíveis;
eis uma tarefa da genealogia da moral;

se o discurso em torno do homem visa à conservação, promove-se o super-homem;
não o super-homem como super-ser, não é aqui que se concentra a sua novidade, ou melhor, isso seria inverter-lhe a função;
o super-homem não tem nada a ver com o ser, ele é personagem conceitual do devir;
sua importância se concentra na elaboração e operadores do devir e não nas elocubrações a respeito de super-heróis;
cabe, portanto e inicialmente, diferenciar ser e devir antes de, ou melhor, para partir para os operadores do devir;

a concepção do devir se dá inicialmente sob a forma da arte;
a arte então colabora para nos livrarmos das amarras da representação e definirmos o discurso científico como justificativa moral reacionária de realidades conformadas, do homem, do estado, da natureza;
a partir de certo momento, a insistência sobre a forma do ser humano própria do discurso artístico não cabe;
passa-se ao corpo-sem-órgãos para problematizar o orgânico, visando uma troca de perspectivas mais intensa;

em minha experiência chego a um momento em que não posso mais denominar de música o canto-dança guarani, pois, além da definição conceitual do canto-dança, não há equivalência semântica para se utilizar a mesma palavra;
além de definir a instituição canto-dança, cabe distinguir que eles não fazem música como nós;

a partir daí, entra-se no problema do xamanismo;
o xamanismo como ciência o devir, na qual o humano e a humanidade do humano serão redefinidas não como substância e sim como operadores do próprio devir;
a humanidade passa a se constituir aqui como função referencial na dinâmica de perspectivas que circula incessantemente entre os seres, a qual é própria da sociocosmogonia do xamanismo;


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