02 dezembro 2007

como se dá isso? - assim me interroguei; que induz o vivente a obedecer e a mandar e, ao mandar, praticar, ainda, a obediência?
ouvi a minha palavra, agora, ó os mais sábios dentre os sábios! verificai seriamente se não me insinuei no coração da própria vida e até às raízes do seu coração!
onde encontrei vida, encontrei vontade de poder; e ainda na vontade do servo encontrei a vontade de ser senhor;
que o mais fraco sirva o mais forte, a isto o induz a sua vontade, que quer dominar outros mais fracos: esse prazer é o único de que ela não quer prescindir;
e, tal como o menor se abandona ao maior, para conseguir prazer e poder no menor de todos, assim também o maior se abandona a si mesmo e, por amor do poder - põe em risco sua vida;
é esta a abnegação do maior: de que é risco e perigo e um lance de dados com a morte;
e onde há sacrifícios e serviços prestados e olhares amorosos: ali também há vontade de ser senhor; por caminhos oblíquos, introduz-se o mais fraco na fortaleza e até no coração do mais forte - e, ali, furta poder;
e este segredo a própria vida me confiou: 'vê', disse, 'eu sou aquilo que deve sempre superar a si mesmo;
sem dúvida, vós lhe chamais vontade de procriação ou impulso no rumo da finalidade, do mais elevado, do mais distante, do mais multíplice; mas tudo isso é uma coisa só e um único segredo;
ainda prefiro o meu ocaso a renunciar a essa única coisa; e, em verdade, onde há ocaso e cair de folhas, sim, é ali que a vida se sacrifica - pelo poder!
que eu deva ser luta e devir e finalidade e contradição das finalidades: ah, quem adivinha a minha vontade, certamente adivinha, também, que caminhos tortuosos ela deve percorrer;
o que quer que eu crie e de que modo quer que o ame - breve terei de ser seu adversário, bem como o do meu amor: assim quer a minha vontade;
e tu também, que buscas o conhecimento, és apenas uma senda e uma pegada da minha vontade; em verdade a minha vontade de poder caminha com os pés da tua vontade de conhecer a verdade!
certamente não encontrou a verdade aquele que lhe desfechou a expressão 'vontade de existência': essa vontade - não existe!
porque: o que não exite não pode querer; mas o que é existente, como poderia ainda querer existência!
onde há vida, também há vontade: mas não vontade de vida, senão - é o que te ensino - vontade de poder!
muitas coisas o ser vivo avalia mais alto do que a própria vida; mas através mesmo da avaliação, o que fala é a vontade de poder!'
assim um dia me ensinou a vida; e destarte, ó os mais sábios dentre os sábios, resolvo também o enigma de vossos corações;
em verdade, eu vos digo: um bem e um mal que fossem imperecíveis - isso não existe! cumpre-lhes sempre superar a si mesmo;
com os vossos valores e palavras do bem e do mal, exerceis poder, ó vós que estabeleceis valores; e este é o vosso amor oculto e o esplendor e o frêmito e o transbordamento de vossa alma;
mas um poder mais forte, uma nova superação nasce dos vossos valores: faz ela romperem-se o ovo e a casca do ovo;
e aquele que deva ser um criador no bem e no mal: em verdade, primeiro, deverá ser um destruidor e destroçar valores;
assim, o mais alto mal faz parte do mais alto bem: mas é este o criador;
falemos nisso, ó os mais sábios dentre o sábios, ainda que seja tarefa espinhosa; silenciar é pior: todas as verdades silenciadas tornam-se venenosas;
e que se despedace tudo o que possa despedaçar-se de encontro às nossas verdades! ainda há muitas casas por construir!
assim falou zaratustra;
(zaratustra, do superar a si mesmo)



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