29 novembro 2007

transvaloração 2

a não ser na ilusão dos positivistas, iluministas e outros civilizadores das luzes, o conhecimento não consiste em conhecimento em si, conhecimento pelo conhecimento;

em contraste, o xamanismo vai ao limite de não só constituir-se como diplomacia interétnica, mas como sistema de relações interespecíficas;

isso ainda para justificar o lugar de uma análise do discurso, e mais especificamente nos campos que nos interessam;

em sua alquimia com o judaico-cristianismo, esse pensamento consiste no programa unificador da ordem do mundo própria do estado;

o estado se define como a configuração, em termos de poder, desse regime discursivo que justifica um instrumento de análise denominado análise do discurso;

a análise do discurso possui sua matriz, seus precedentes, no programa de uma transvaloração que remonta à nietzsche;

esse programa enfoca uma crítica radical dos valores e pressupostos em que está assentada a tradição científica ocidental, denunciando seu comprometimento profundo e as funções que desempenha na configuração do estado e de seus aparelhos de captura, tal como o aparato jurídico;

essa imagem contrasta (e ataca) imagem da transparência e da neutralidade com que a ciência a partir de seus mitos constrói sua imagem de si mesma;

por se voltar à ordem interna do discurso (langue), buscar seus pressupostos e desvinculá-lo da sua ordem externa (representação), ou melhor, por estabelecer novos vínculos entre ordens internas e externas, conceber (outras) formas de apropriação e intencionalidade dos discursos, por desviar a atenção voltada exclusivamente para o que esses discursos dizem, voltando-nos, agora sim, para sua ação, essa análise do discurso nos conduz a um método que problematizará a história e, portanto, o método histórico, principal matriz de pensamento crítico do século vinte;

o argumento será esse vínculo que a história mantém com a realidade transcendente dos fatos, essa imaginação representacional que a vincula à tradição que ela visa criticar;

o que se dá aqui é uma crítica e uma contraposição dialética que sustenta o mesmo sistema que visa criticar;

no entanto, essa perspectiva, ainda que contraposta, legitima esse mesmo sistema, visto que não se busca levá-lo às últimas conseqüências;

aqui se propõe tomar como referência, a partir da dialética, do outro lado da história, a história que foi ocultada pelo poder hegemônico;

não se põe em questão a eficácia da história ou seus pressupostos no âmbito da tradição do conhecimento ocidental;

a história consiste aqui na forma de se fazer justiça, de contar a história na perspectiva dos fracos;

o método consiste na inversão de perspectivas históricas, sem problematizar em que consiste a história, de que forma ela foi apropriada como instrumento de poder, o que faz dela um instrumento de intensificação de poder etc;

disso resulta um sem número de épicos inócuos, ou melhor, de épicos que vão constituir um mercado;

a noção de identidade será outra noção atrelada ao pensamento de estado que definirá um mercado no processo de aperfeiçoamento do discurso das massas, típico do estado nação, em discurso das identidades, configurando assim uma diversidade amansada, vistos que seus signos estão dispostos no mercado pra circulação, não constituindo mais movimentos sociais;

de fato o mercado das resistências constituído ao longo das décadas de militância marxista serviu para alguma coisa, para conformar um mercado da crítica ao capitalismo;

e assim o veneno foi assimilado pelo organismo capitalista, abrindo caminho para que se entenda o processo que se buscará operar com a tradição nietzscheana;

nietzsche inicia com a construção de um sentido de trágico que visa não só circunscrever, como estabelecer um programa estético que se desvincule dessa tradição teórica que pressupõe uma distinção entre ciência e literatura, que opera na chave da identidade, em busca de definições de categorias que se apóiem em características tomadas da realidade e não como produtoras de realidade, sentido assumido pela literatura;

a educação messiânica que o estado envia para civilizar os varadouros do mundo: não interessa tanto se ela responde aos interesses de organização desse ou daquele grupo, mas a uma crítica de o que significa aplicar nossa concepção de organização, com seus pressupostos de consciência, história, agência etc;

sem desconstruir os pressupostos de nossos conceitos messiânicos, sejam eles de corte civilizacional ou marxista, continuaremos a desdobrar e reproduzir nosso discurso colonizador, a integrar os outros e seus universo, sua cosmopraxis, suas ontologias à imagem de nosso progresso histórico;


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