19 novembro 2007

toda minha experiência de pesquisa estava voltada para dar conta, narrar minha chegada na aldeia;
minha intenção de devir guarani era clara;
pensei que a pesquisa seria a forma de me manter próximo a eles para levar a cabo meu projeto tanto literário, como de estética existencial;
a aliança com a academia foi uma minha aliança primeira, que determinaria definitivamente meu olhar, inicialmente pela perspectiva da pesquisa, pelo olhar acadêmico e adiante por sua conversão numa contra-perspectiva, numa posição que consiste em afirmar a contraposição de perspectivas não como uma complementariedade dialética, e sim como procedimento de desmontagem dos aparelhos de captura do esquema de valores da cultura ocidental que tende a ocultar sua absolutização, que tende a excluir outros sistemas de valores, que tende a abolir a sua relativização por qualquer consideração de outros regimes morais e daí jurídicos, epistêmicos, políticos etc;
não se trata, portanto de uma postura crítica que tendesse a integrar dialeticamente ao mesmo;
trata-se, no caso da antropologia, de manter-se nas imediações, nas zonas limite da valoração e da subjetivação ocidentalista;
consiste mesmo numa inversão da função de aparelho de captura típica da antropologia;
aquele processo de inversão operado por nietzsche na genealogia da moral, visando conduzir a um pensamento que não reforçasse dialeticamente o moralismo ocidentalizante e sim que conduzisse a uma transvaloração generalizada do pensamento para se enfrentar os aparelhos de captura institucionais;
o trabalho dessa antropologia não se restringe ao reconhecimento de um pensamento selvagem, menos ainda de um pensamento selvagem pautado em nossos valores, e sim na sua utilização para a desmontagem dos aparelhos de captura homogeneizadores que operam o alinhamento valorativo pelo moralismo disfarçado em suas diversas caras institucionais;
aqui que se coloca a importância a operação com as máquinas de guerra que consistem na articulação de um pensamento selvagem virtual que pouco tem a ver com a atitude descritiva de um racionalismo indígena;
trata-se sim de ir buscar a forma do pensamento selvagem que seja um pensamento contra-estado;
portanto, essas máquinas de guerra ou esse pensamento selvagem contra-estado ao qual a antropologia ou a contra-antropologia ou a antropologia contra-estado, irá se aliar vai de encontro a atitude descritivista que caracteriza a atitude mais característica do pensamento de estado, o objetivismo racionalista;
por isso a necessidade desse pensamento sevagem contra-estado estar articulado a toda uma teoria dos enunciados, dos agenciamento enunciativos, do regimes de enunciação;
é essa a via percorrida por clastres para chegar a apropriação do pensamento selvagem virtual como máquina de guerra;
operar no contraste entre sistemas de pensamento, no conflito de procedimentos consiste na prática genealógica que não possibilita o isolamento em um único regime de valores e a proliferação de práticas de conhecimento e outras instituições a partir desse regime único e unicizante;



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