15 novembro 2007


onisciência ocidental
a consciência possui tendência a se absolutizar, a não permitir que nada lhe escape, a ocupar todo espaço, à onisciência;
isso seja em termos individuais, pessoais, seja em relação ao coletivo ocidental, à cultura ocidental;
em termos individuais, isso se atualiza em nossa auto-imagem residual, em nosso ego;
em termos sociais, esse ego absoluto da consciência é atualizado pelas instituições em geral, como a história, o estado, a religião;
mesmo a imagem que fazemos de deus é a de uma super-consciência que tudo sabe (e nos oprime conhecendo nossos segredos íntimos), consciência absoluta que está inclusive dentro de nós a nos julgar e culpabilizar;

instrumentalizar a antropologia serve para relativizar essa máquina de absolutizar, esse aparelho de captura;
operar assim com as imagens dos limites da consciência absoluta que define nossa civilização;
pois pela consciência se institui uma forma de dominar, de reproduzir valores, de conservar poder
meu trabalho consiste em lidar, em manobrar com essa instância que tende ao ilimitado, que planeja se generalizar;
operar tangenciando os imperceptíveis;

a operação dessa consciência, que se imagina como todo perceptível, consiste em uma explicação que oculta a ação em que tal explicação consiste;
uma explicação que neutraliza seu caráter de ação, de produção, de criação, de valor;
explicação que se define como representação, constatação, observação, descrição etc;
ocultar o poder de ação da palavra;

a noção de discurso visa justamente acentuar o caráter ativo da palavra, desconstruindo assim o mito da palavra enquanto representação da realidade;
nessa ordem discursiva a palavra se caracteriza por seu poder de produção de realidade, produção de valores, produção de verdade;
a análise do discuro encaminhará portanto a desmontagem dos discursos que, com maior ou menor evidência, ocultam seu poder de instauração de valores absolutos, que ocultam sua ação;
esses discursos geralmente se apresentam como estrita representação de supostas realidades pré-determinadas e estabelecidas;
a partir desse representacionismo, desdobram uma concepção de linguagem e de sentido;

um dos campos mais fecundos para a análise dos discursos tem sido a história, definida por foucault como intensificador de poder;
até por ser a instituição e a disciplina que define até hoje a imagem do conhecimento e as metodologias das ciências humanas;
desde os textos clássicos de nietzsche, ela não mais deixou de consistir numa abertura para a reformulação da imagem do conhecimento representacionista e positivista;

outro campo fecundo será a teoria do conhecimento, com destaque para a epistemologia, para o debate entre ciências humanas e ciências naturais e seus princípios;
destaca-se aqui a noção de natureza como concepção de base para a ciência e o pensamento ocidentais, pautados na consciência e no representacionismo;

outro campo fecundo para a análise do discurso, tratando-se de absolutização de valores na produção de conhecimento, será a antropologia;
o interesse sobre a antropologia consiste em que ela não só nos instrumentaliza sobre os processos de amansamento próprios de nossas estratégias de homogeneização e etnocídios;
ela interessa especialmente aqui por nos disponibilizar, por nos abrir os horizontes, por nos colocar em contato com os universos afetivos que absorveram e absorvem os impactos de nossos aparelhos de captura;
toda uma história afetiva da diferença se disponibiliza para ser escrita, uma literatura antropológica da resistência que enxergue para além das identidades, das categorizações, e cartografe intensidades no corpo da suposta homogeneidade ocidentalizante (ocidentalidade homogeneizante);
conceber a diferença na reação de cada povo, de cada grupo, consiste na primeira grande quebra com a generalidade das reações (aculturação), que remete por sua vez à própria generalidade da expressão 'índios', primeiro aparelho de captura lançado sobre os selvagens;





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