17 novembro 2007

de fato o discurso dos direitos é o que vigora;
direito à educação, direito à saúde, direito aos direitos etc é esse o horizonte dos civilizado(re)s;
a ordem do estado se configura de modo a privar as pessoas de autonomia;
chamamos isso de civilização;
o que o estado considera como benefícios consiste na forma de as pessoas se subordinarem às suas facilidades, a forma de se vender ao estado, de reforçar o seu poder em troca de benefícios próprios;

por estar do outro lado, por me colocar na resistência a essa civilização, por essa civilização definir-se como sinônimo da extinção do modo de vida, da autonomia dos povos nativos, concebo de uma outra perspectiva seja do direito mesmo, seja do discurso que se faz sobre sua necessidade;

não que não trabalhemos tendo por horizonte esse campo de ação que é o estado e os direitos que ele nos propõe em troca de legitimarmos seu poder;
a questão é que, a partir das experiências com/do estado e a especificidade de sua função (mais que embuste do discurso democrático da igualdade e da representação), buscamos ter a medida do preço desses benefícios oferecidos por ele, buscando assim não nos confundirmos com ele, mantendo uma saudável (para nós) relação de alteridade em relação a ele;

as facilidades introduzidas pelo estado na vida das pessoas repercutem em modificações que a longo prazo reorganizam toda a comunidade;
o estado opera de modo a tornar-se o eixo ou a definir o eixo da dinâmica do poder das comunidades através de seus representantes;

não considero que se trate de uma questão de conscientização, de educação das classes populares;
os próprios processos de conscientização e a educação consistem em aparelhos de estado que visam a conformar os valores da consciência;
a própria consciência como valor supremo consiste em algo a se olhar com certa desconfiança;

o estado tende a se apropriar, a capturar as máquinas que atravessam seus aparelhos;
apropria-se da retórica da consciência, aparelho de captura que mesmo o precede ao constituir-se no equipamento central do modelo místico da psicologia judaico-cristã;

também não acredito na conscientização das classes de técnicos, que elas possam transformar sua forma de conceber seus clientes, pois a aparelhagem a transcende e ela mesma consiste numa dimensão do processo;

há aí um processo histórico que define há muito a relação entre o estado e os súditos;
o estado se configura, especialmente seu judiciário, numa continuidade das estruturas de poder da colônia;
há uma relação de súdito com o poder constituído;

o problema dos valores se evidencia na forma autoritária dos técnicos de estado discursarem;
seus pressupostos sem fundamento, seus dogmas etc tendem a se desmontar quando são circunscritos numa cultura, história ou tradição, quando são despertados de seu absoluto para o relativo e histórico de sua condição, da condição de seus valores;

pode interessar aqui voltar ao curto circuito proposto por latour em jamais fomos modernos entre a noção de representação de nossa semiótica realista e positiva que configura nossa matriz epistêmica e a noção de representação que pressupõe nosso regime democrático de distribuição do poder do estado;

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