29 novembro 2007

a análise do discurso se dá a partir da necessidade (tão corrente e generalizada hoje que perde sua especificidade (até por ter se tornado um produto tradicional no mercado de discursos) de se voltar para o conhecimento ocidental, de voltar um olhar crítico sobre esse conhecimento, ou melhor, de considerar outros olhares sobre esse conhecimento;
considerar assim, a partir desses olhares deslocados, dessas outras perspectivas, as nossas formas de produção de conhecimento, seus valores e seus pressupostos, sua conformação, suas funções sociais nos diversos contextos, inclusive coloniais;

esse esforço se volta à desmontagem (genealogia) de uma tradição que remonta à grécia, ao judaísmo, chegando à exacerbação com o positivismo como cria do messianismo iluminista;
o caráter de absolutização, de generalização típico desse conhecimento, dessa cultura, dessa política, dessa tradição religiosa etc, constituem sua ciência, sua imagem do conhecimento como consciência absoluta de uma realidade capturada, de uma imagem consciente da realidade amansada pelo saber, pela apropriação, pelo conhecido, pelo fechamento a qualquer dúvida;
essa forma de ciência, seu modos de classificação e apropriação de realidades parecem voltar-se como justificando um fim em si mesmos, o saber pelo saber, um saber justificado pela melhor maneira de apreender o real, sem cogitar que o real consista numa instância relacional e a ontologia numa política e diplomacia entre sistemas de conhecimento;
veja, esta é a minha realidade, e a sua...
é de uma ingenuidade comprometedora pensar num conhecimento desvinculado de uma política externa da mesma forma que é uma ingenuidade pensar numa religião desvinculada de sua função de conquistar, de doutrinar, de colonizar, de amansar, de reduzir;
a ciência não será mais abordada na ordem do discurso a partir desse olhar interno e compromissado, esse olhar universalista que instaura o universalismo, como tendo um fim em si mesma;
a ciência se presta a inúmeras funções na constituição e manutenção do estado e cabe desmascarar tais funções para apreende-la;
a pergunta sobre a efetividade desse conhecimento já parte ela mesma desse desvínculo entre o conhecimento e sua função na constituição da unidade de poder que lhe investe poder e as referências enunciativas e perspectivas que assume;
aquém desse vínculo com a unidade de poder que referencializa esse saber, que lhe fornece uma perspectiva, esse discurso opera a partir da projeção de uma realidade transcendente (natureza) que o sustenta;
assim, a pergunta sobre a efetividade desse conhecimento em si é feita tomando como foco essa realidade referente, essa imagem do real;
a pergunta não volta o conhecimento para si, para o conhecimento enquanto sistema com ordem interno, com seu caráter constituinte de realidades;

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