04 outubro 2007


sempre exercitando a genealogia
o modelo moral proposto pelos gregos a partir da razão e da consciência, ou seja, supostamente laico e universal (universal aqui num sentido particular pois que rompendo com o cultural mítico para definir mito universal, a razão) foi metamorfoseado por duas revoluções que mediam nosso contato com ele;
a primeira é sua regressão judaico-cristã ao mito (séc. II ao sec. XVI) para identificação de suas raízes definitivamente morais, ou seja, culturais e, portanto, universais, mas não no sentido que po ele fora atribuído, de ruptura com mito e universalização pela razão;
o mito a que me refiro é o judaico-cristianismo que se apropria dos recursos da tradição grega para definir sua psicologia, sua política, seu direito, preparando assim, o caminho do monoteísmo laico do estado;
chega-se ao estado (sec XIII até hoje), a segunda revolução a que me referi, que teria retomado e redefinido a sua forma esse modelo individual de homem (modelo moral de indivíduo), fundado na consciência e na liberdade, o qual fornece também e ao mesmo tempo a psicologia do estado (digo, a mônada da sua estrutura psíquica), assim como o modelo epistêmico, a forma própria do conhecimento que se propõe laico a partir do renascimento, a ciência, que é colocada pelo estado em função do desenvolvimento ou progresso e da ordem social;

é a isso que nos referimos quando tratamos do caráter repressor da concepção do desejo como falta que procuramos formular no texto regras da virtude;
estamos tratando que a forma do uno que está apropriada seja pelo monoteísmo judaico-cristão, seja por seu regime político, o estado capitalista, forma esta que se projeta na forma do sujeito moderno, o indivíduo;

por que o desejo e justamente o desejo?


o desejo é aquilo que singulariza, aquilo que tira do padrão, que particulariza e faz a singularidade de cada indivíduo;
por isso a moral (processos de valoração universais) se constitui aqui na forma de um modelo, de uma receita, de uma fórmula despojada de arbitrariedades, mansamente domada pela razão e seus remédios, explicável, racionalizável;
nesta crítica epistêmica, a psicologia (e a psicanálise) ocupa espaço privilegiado e se projeta devido a ela operar com as imagens e conceitos da subjetividade (ainda que de forma alguma esteja imune à tradição objetivista que a fundou e define seus métodos científicos), tendo a objetividade (de forma alguma, igualmente, imune à subjetividade, que a funda e percorre via moralismo), a partir da physis, (expurgado a subjetividade das ciências e criado esse campo experimental para sua abordagem asséptica e positiva, a psicologia) se constituído como o objeto ou problema, por excelência, das demais disciplinas do nosso pensamento, o pensamento positivo;

interessante, nessa guerra, como se constitui o corpo da antropologia, disciplina que se coloca na margem de nossa subjetividade (de seu modelo, digo, de nosso modelo, ao estudar a minorias, sejam alienígenas ou não), nas fronteiras de nossa id-entidade para definir processos de subjetivação e objetivação outros;
garantida pela colonização, regime político dominante em seu contexto nascedouro, acreditava-se que não seria mais possível escapar ao milenar método positivo e histórico constituído como aparelho de estado visando à ordem social do capitalismo colonialista;
imaginava-se que os antropólogos fossem mandados para pregar nos velhos oestes a religião universal do estado, da igualdade, dos direitos, reiterando e reforçando o modelo do estado;
imaginava-se, até bem pouco, uma zona fronteiriça não problemática, definida pela progresiv civilização dessas zonas limítrofes desse sentido moral que nos pressupõe a subjetividade e a objetividade;

entre a objetividade subjetiva da physis e a subjetividade cientificamente objetiva da metaphysis, a antropologia encontrou o sentido, liame de conexão entre essas dimensões;
daí a crise de que sairá o óbvio ululante do estruturalismo, que irá inicialmente opor as séries significada e significante para ir se desdobrando na crítica dos dualismos que sustentam a imagem ilusória da representação positivista, ou melhor, taxonomista e individualista;
colocado o problema da representação, articulado (inevitavelmente) ao dos valores, desconstrói-se (via genealogia ou crítica dos valores) o imaginário de uma dimensão universal da physis, da natureza, bem como (pela própria crítica dos valores que possibilita essa desconstrução) a crítica ao modelo moral que define a subjetivação na forma das identidades;

inicialmente tenta-se isolar a objetividade indígena, fazer dela o objeto da antropologia, cujo método teri o propósito estrito de registrar ou descrever objetivamente tais objetividades;
mesmo em campos em que a subjetividade se sobrepõe como o mito ou o xamanismo, o animismo objetivou processos mentais;
a socialidade é explicada objetivamente, projeta-se sobre ela categorias estranhas;

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