30 outubro 2007

os povos indígenas se organizam com um projeto de vida bem complexo; para nós, o defeito quando acontece não está na pessoa, mas no nosso jeito de orientar; a responsabilidade é de todos; na aldeia você é membro de uma grande família; eu não posso ter o respeito só com meu pai, meu avô; tenho que chamar a todos de pai, mãe, avô, irmão; falo que tenho 50 pais, 50 mães, 200 irmãos; essa é uma segurança que a gente tem; não se chama ninguém pelo nome; chama de pai, irmão, avô...
nós entendemos o canto dos pássaros e outros sons da floresta, e ficamos tão íntimos dela que passamos a entender tudo; quando um não índio chega a nossa aldeia, a partir do jeito como ele olha a gente, já entendemos como nos vê; nem precisa falar; às vezes as pessoas falam coisas bonitas mas não passam segurança; elas precisam começar a "ver" de verdade;
shãsha – francisco piyanko

o sujeito e a subjetivação
enquanto em nossa cultura centramos nossa atenção sobre o indivíduo como centro de responsabilidade, culpa e derivados, para os ashaninka esse problema se dissipa com o processo de subjetivação;
não se trata de certo e errado, critérios que configuram a condução de nosso saber, o indivíduo não é considerado errado diante de supostas verdades e regras, marcadamente transcendentes, a serem obedecidas para se estar certo;
o indivíduo está sempre certo, deve se saber utilizá-lo dentro do plano geral;
em lugar de operar no domínio e controle social dos indivíduos, essa socialidade lida com a diferença de outra forma;
não se trata de um modelo de sujeito pautado em regras estabelecidas, é a multiplicidade de singularidades que conduz o grupo;
a identidade aqui não define, conforme o ocidentalismo, um modelo de subjetividades pautado em regras de conduta morais, considerando o valor do modelo em detrimento das singularidades;
enfim, o próprio objetivo dos procedimentos é outro;
o conhecimento não está centrado no indivíduo e na competição, e sim na coordenação dos saberes para a constituição de um saber coletivo;
essa natureza intensiva do conhecimento e sua distribuição contrapõe-se ao caráter extensivo assumido pela tradição ocidental;
a concepção de subjetividades coletivas, compatível com sua sociocosmologia, entra em choque com o modelo individualizante da consciência racional;
essas subjetividades se constituem na forma de zonas de indiscernibilidade seja no contato entre indivíduos, seja no contato entre espécies;
essa subjetivação encontra agenciamentos de enunciação próprios em sua ritualidade, cuja característica que vimos marcando é a de uma dinâmica dos devires em contraste com o regime de signos da representação;

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