27 outubro 2007

série lembrança
distintividades
saudações a todos
estimulado pelo tema, contribuo.
gosto de pensar em termos de diferenças e semelhanças;
comecei estudando as poéticas alquímicas de bachelard;
interessei-me especialmente por um livro, o do ar, em que tem um capítulo central sobre a “filosofia nietzscheana”; gostava de uma expressão que ele usa: uno factu;
essa expressão pareceu referir-se (não conceituar) a um gesto que persigo, na antropologia especialmente, e que bachelard cumpre que é, enquanto teoriza, poetizar, concomitantemente, ou seja, uno factu;
meu rizoma nietzschiano em bachelard, de quem acabei me afastando, consistia no interesse por esse problema;
nietzsche como aquele que problematiza os limites entre a arte e a filosofia, não só como teórico da filosofia (posição por ele rechaçada) e sim como experimentador, criador de filosofias;
a filosofia trágica, em rizoma com uma anti-epistemologia da psicologia, vai nesse rumo;
por isso, agrada-me a antropologia como pesquisa das subjetivações, como experiência com as subjetivações, como laboratório da variedade de agenciamentos (por aqui pegava mal continuar com o vocabulário alquímico bachelardiano);
no entanto, tive um problema para tratar a arte em minha pesquisa sobre o canto-dança ritual guarani;
a noção de arte era dissonante no universo guarani;
por isso foi interessante trabalhar tanto tempo com o livro mais cru de nietzsche, a concepção do trágico, que evidenciou isso;
a própria noção de música precisou ganhar outro nome, a forma como eles referiam (e que melhor traduzia os termos guarani) no falar cotidiano;
a arte ainda está impregnada do fetiche próprio ao seu universo representacional e disso posso falar senão com propriedade, com experiência, por minha formação em letras;
pois como se constituíram as fórmulas subjetivas da ocidentalidade, o mesmo fetiche dominou as artes, inclusive o teatro, que se tornou comércio de personagens, inclusive a música, da qual prefiro não falar;
por isso, romper com a arte, por ela estar muito impregnada do universo da representação;
ao mesmo tempo, por isso usar a arte, por ela levar ao limite a “linguagem da representação” que domina os nichos cognitivos e enveredar-nos pelos campos do devir;
(teatro e música, tanto para nietzsche, como para mim, são centrais nesse processo;)
devido a essa segunda dimensão da arte, insisti em aproximar a filosofia trágica aos guarani;
e também por que me interessava imaginar uma (contra-)filosofia guarani como filosofia trágica, em contraponto às reduções metafísicas e logocentradas que seu pensamento sofrera ao longo dos séculos de interpretação judaico-ocidental;
afinal, uno factu era esse devir-guarani que eu experimentava, seja por minhas intensas relações com a música, a amizade e o xamanismo, seja pelo caráter de máquina de guerra de meus escritos que combatiam os aparelhos de captura do estado ao qual a antropologia está atrelada, ou seja, não me interessava descrever neutra e objetivamente os guarani;
a partir daí fazia a distinção entre arte e ritualidade, pois a ritualidade parecia não pagar o tributo que a arte paga ao pedágio representacional;
assim se dá meu rizoma com o universo indígena, a partir do qual se desdobram minhas experiências com a subjetivação;
pois a subjetivação vem para colocar esse mesmo debate para a psicologia, desmontar a psicologia em seus pressupostos, a imagem do homem pautada na consciência da filosofia religiosa e moral que a tradição nos legou;
essa contra-psicologia tem desdobramentos certeiros numa antropologia maldita: da noção de identidade à noção de sociedade vai haver uma redefinição geral;
os processos de subjetivação consistem em se estender a arte, ou melhor, a dimensão devires da arte (visto que não me interessa sua identidade representacional), para a subjetividade;
certo que passamos por processos de subjetivação humanos, como é o caso dos nossos amigos kontanáwa que nos disponibilizam toda uma ciência das subjetivações, para passar ao largo e nos indiscernibilizar nas subjetivações não-humanas;
aqui toda imagem do pensamento auto-referenciado da identidade judaico-parmenideana, centrado na representação de uma natureza pré-concebida da mente de deus, reconfigurar-se-á a partir dos imperceptíveis, imagem do conhecimento centrada na troca de perspectivas, criação de naturezas pós-experienciadas nas mentes das criaturas;
enfim, uno factu ...
abs

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