27 setembro 2007

ecologias e monoculturas

me parece que a noção de certo e errado, muito importante para a matemática, onde tem uma função, foi propositadamente migrando para outras disciplinas;
e nessas disciplinas formou o imaginário pedagógico e o seu status social;
isso prejudicou essas disciplinas na medida em que as definiu a partir de um padrão único, o que é certo, tolhendo o seu caráter experimental;
a tarefa hoje da pedagogia, com apoio das teorias elaboradas nos campos específico de cada disciplina, consiste em abolir esse imaginário do unidimensional;
a disciplina que está adiantada, apesar de seu imaginário ainda impregnar-se de pedantismo de norte a sul, é a língua portuguesa;
também pudera um único idioma para um território e um continente populacional como os do brasil, só um povo muito massacrado para sustentar;
o fato é que as últimas décadas conheceram, ou melhor, tiveram contato com a noção despadronizada de línguas portuguesas;
esse imaginário da multiplicidade é fundamental para que uma grande reformulação epistêmica que já se consolidou há décadas no plano teórico, chegue às nossas mesas;

no entanto, essa concepção padronizada de ensino e de saber que está no cerne religioso e colonialista do conhecimento ocidental teve, tem e terá muita repercução sobre a educação e o conhecimento (mesmo o tradicional) indígena;
vejo nas palavras dos índios, assim como nos documentos, a exigência ao direito de educação dos brancos, associado ao domínio da técnica num imaginário do poder;
no entanto, esse presente que prontamente (assim que exigido e por isso a impressão de vitória da educação indígena que vai se afundando cada vez mais nos níveis médio, superior e pós-gradução) é dado, é um presente de grego, um belo cavalo de tróia, que esconde dentro dele um arsenal colonialista que se acreditava, com a escola, estar combatendo;
de fato a educação circula poder na sociedade branca, mas cabe fazer uma leitura crítica disso;
para que serve aos branco e seu mercado amansar o pensamento;
estou certo de que não é para libertar o homem como propunha o iluminismo que deu origem a essa retórica da universalização da razão via educação, dando continuidade à universalização da fé da retórica judaico-cristã, que por sua vez sustentam a ordem do estado, articulado (hoje mais do que nunca em nosso hiperliberalismo mundial) à ordem econômica;

o que deveria ser problematizado é o caráter experimental que leva às educações dos brancos, pois essas são muito diversas;
certo que há uma educação do branco, mas é justamente esse bloco homogêneo que busca hoje saída na multiplicidade e na diversidade depois do estrago que deixou na de-formação das gerações anteriores, gerações incapazes de articular a teoria e a prática adequadamente;
pois a homogeneidade só se sustenta na teoria, mas a prática vive da diversidade, foi assim que, para manter a padronização (que passa certamente por nosso imaginário militar positivista) que nossa educação se teorizou irremediavelmente;
era uma diversidade muito maravilhosa de povos que devia ser homogeneizada;
essa pasteurização se deu pela educação, propagandeada como acesso único à qualquer tipo de técnica ou tecnologia;

acredito que o caminho para essa busca do experimental está no contato com outros agentes da comunidade e na auto-observação dos professores;
o professor pode ser o agente na promoção da multiplicidade se puder reverter o processo de homogeneização subjetiva que se instalou nele com a concepção de conhecimento científico ocidental;
estamos também na fase de superação de uma retórica da onipotência da conscientização e da exigência por direitos, entendendo-se por isso a servidão voluntária aos mecanismos assistencialistas do estado;
esse período pode trazer a emergência de iniciativas com outras referências, outra criatividade, outras técnicas que proliferem outros universos, universos heterogêneos ou da heterogeneidade, multiplicadores de heterogeneidade;
considero o surgimento silencioso dessas iniciativas, mais que o alarde das promessas de novos paradigmas;

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