21 julho 2007

o enigma e seu devires 2

de fato, levi-strauss já provara que os índios pensavam, isso não precisava ser feito, já ousara traçar aspectos do pensamento selvagem, analisando e propondo inicialmente o pensamento a partir do mito, dos contos;

essa proposta lhe chegou da tradição antropológica francesa, que tem em mauss o seu marco;

essa tradição encontra na antropologia o limite do positivismo e do universo histórico-transcendental do século dezenove;

esse limite se constitui com a abertura da antropologia a outros regimes de valor, não resistindo também o positivismo ao problema epistemológico sistematizado por mauss em sua concepção de categorias nativas;

a partir daí, o panorama ocidental passa a ruir para si mesmo, a medida que se impõe cada vez mais ostensivo para os povos e nações colonizados;

a antropologia coloca para a teoria do conhecimento um problema diverso de qualquer outro: do seio da matriz da homogeneidade, constitui-se uma disciplina da diferença;

essa diferença não se mantém no movimento de redução do pensamento selvagem, ela cria referências de conhecimento e verdade bastante diversas das referências da matriz;

esses pensamentos outros que passam a proliferar na antropologia, modificando suas referências positivas constituem-se num processo de virtualização do pensamento;

se a referência positiva de verdade consiste na objetividade a partir de uma lógica da identidade o virtual opera com as referências do construtivismo;

o virtual redefine a metafísica que sustenta a ciência positiva ocidental (e mesmo a história, dado que descobrir é o verbo que define nossa história);

lidar com outro pensamento ou com a possibilidade de pensamentos outros resulta, por si só, na circunscrição do universalismo ocidental e de seus pressupostos metafísicos;

levi-strauss constrói uma antropologia inspirada nos mitos, ou melhor, tomando os mitos como seu princípio organizador;

é dessa forma que o mestre estruturalista passa de sua teorização do pensamento selvagem para o problema epistemológico, a influência desse pensamento selvagem na antropologia, disciplina fronteiriça e, por isso, a mais afetada por essa diferença, problema com que a antropologia se debatia há tempos;


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