23 julho 2007

mais silêncio...

foto: mauro

para não se perderem as referências: os temas que trato no escrito o enigma e seus devires se referem não só ao texto de rubem alves anexado, refere-se principalmente ao texto anteior que postei e ao comentário de vanderlise;

acredito nessa escola dos antropólogos amadores, a que me alinho;

é uma boa linhagem e não vejo nela essa oposição, o que vejo é a diferença;

minha afinidade é com pensadores que tiveram formação em outras áreas e, só mais tarde foram fazer antropologia, autores como clastres, seu mestre, leon cadogan, levi-strauss, mauss, e até deleuze e, talvez, foucault que se constituíram como referência ao trabalho antropológico;

não vejo que é bobo, pois não estou querendo tirar das minhas costas o peso da civilização ou despistar as estratégias de dominação da antropologia seja ela amadora ou não;

o que estou fazendo é trazer um elemento com que tomei contato em alguma hermenêutica, não sei bem se na de ricoeur ou na de eliade, ou mesmo na antropologia de seeger, ou mesmo na literatura, mas, de qualquer forma, definitivamente, está presente na proposta de educação fática de meu mestre josé carlos de paula carvalho;

esse elemento, que pode compor o quadro do construtivismo que persigo, traz, diga-se assim, o caráter do estilo para a ciência;

como o artista tem seu estilo, assim também o terá o cientista, pois não se opera no horizonte da objetividade descritiva do positivismo, onde a forma consiste na isenção, para se obter a neutralidade no conteúdo;

a formação determina a abordagem, a perspectiva, não é um elemento estritamente pessoal, da vida do autor;

além do mais, quando falo de estudar antropologia com os indígenas, não estou falando da questão pessoal, e sim de uma postura epistêmica e política, ou seja, no plano discursivo e não estritamente no plano pessoal;

portanto, acredito que essa carranca que coloco a frente de minha embarcação para assustar espíritos de antropólogos não é alguma vantagem pessoal que estou contando, ela é feita de um material epistêmico, ela conceitualiza a vida;

penso que essa forma de lidar com o conhecimento é uma alternativa para o tema que tratei em meu último email para a lista, qual seja, o da forma de se ler a antropologia (e mesmo a filosofia);

como ler o pensamento de uma perspectiva não-positiva, pois podem ser feitas, no limite, até leituras positivistas do próprio construtivismo, de nietzsche, de deleuze e foucault, enfim, do caras que deram nó no pensamento e em sua matriz ocidental;

vejo no devir esse cruzamento de vida e conhecimento, de desreferencialização epistemológica;

o devir é o que está mais próximo desse conhecimento silencioso, pois na verdade, não se trata de silenciar literalmente, até nisso é preciso mudar a freqüência do seu “ouvir”, para se entender que esse princípio tem por referência um falar do pensamento positivo, um falar que não para de falar, que intermedia tudo por um falar compulsivo, que só entende o que é explicado;

lido com essa compulsão como matéria prima: sou professor de literatura, estudei todas as disciplinas de literatura oferecidas em meu curso, na graduação já freqüentava os cursos de pós-graduação em teoria literária;

sofri com todas as formas de se explicar a literatura, a poesia, a arte;

em compensação encontrei alguns mestres do conhecimento silencioso, que faziam a ponte, sem ter que explicar e danificar o sentido daquilo que só pode ser passado por essa forma de conhecimento;

trabalhar com esse conhecimento num meio em que as formas que determinam o conhecimento o determinam como mercadoria, cujo valor é estritamente o de troca, é um desafio que só se justifica por seu próprio aperfeiçoamento;


Visitor Map
Create your own visitor map!