24 abril 2007

a questão da etnicidade

a etnicidade já foi vista, e ainda pode ser, como um problema racial; ainda se acredita na pureza racial para a definição daqueles que pertenceriam a culturas não-ocidentais, já que somos uma maioria e tudo o mais deriva de nós;

essa concepção racista da etnicidade, que busca na biologia e na genética a definição da etnia, abriu espaço em meados do século vinte, quando já não se sustentava mais, para a concepção culturalista de etnia;

a partir de então, saber se alguém pertencia ou não a uma etnia era provado com a cultura;

a antropologia já debutava e podia fornecer método etnográficos satisfatórios para se refutar o cientificismo racista que estava na origem da própria disciplina;

apesar de agradar mais que o critério racista, que tanto tempo levou no Brasil para sair de circulação (e ainda não saiu...), mostrou-se um conceito igualmente problemático, como que provisório;

seu problema era operar numa chave parecida com a da etnicidade racista; atribuía-se o título de etnicidade àqueles grupos cuja pureza cultural fosse constatada; trocava-se a pureza genética pela pureza cultural, valorizando-se da mesma forma o original ou o puro do critério racista;

cabia-se fazer, a partir daí, a revolução copernicana que possibilitasse valorar a transformação, ou pelo menos, não estabelecer-se sobre o critério da pureza, da imobilidade cultural;

valorizava-se então o objeto de análise mais adequado teoricamente à comprovação, que obedecia aos critérios lógicos e científicos, que possibilitava a partir de um método seguro definir por parte do antropólogo e de sua competência quem seria e quem não seria ío seria quem nompetpor aprte um mrnrar a transformaçma o original ou o puro do critfiniçndio, e se esquecia do problema incontornável da prática;

sua reformulação veio com a concepção segundo a qual a etnicidade não seria produto da cultura, e sim a cultura seria produto da etnicidade;

segundo essa concepção, a cultura não comprova a etnicidade do grupo, não se estuda a cultura para se atribuir a etnicidade (ou não do grupo);

a cultura servirá, antes, como instrumento do grupo para construção de sua identidade étnica, a qual perde sua substancialidade para adquirir o caráter dinâmico que a define como conjunto de relações que resultam na auto-imputação étnica e no reconhecimento do grupo por parte de outro grupos;

o que ocorre com a ruptura em relação à concepção culturalista é que o enfoque sobre a etnicidade deixa de constituir-se no “centro” da sociedade, para se constituir em suas borda, em suas franjas, em suas fronteiras sociais;

identificar-se e ser identificado equivale a distinguir-se e ser distinguido;

esse será o critério para a definição da etnicidade, que o grupo se identifique como tal e que seja identificado por outros, diferença e identidade;

o que constitui um salto nessa crítica ao substantivismo culturalista é certamente o movimento de sustentar a etnicidade, um dos problemas mais insolúveis da disciplina devido ao seu envolvimento com as teorias racistas que estão na gênese da antropologia, sobre o devir das relações sociais e da construção e resignificação de identidades, colocando a disciplina apta a enfrentar problemas atuais, que exigem uma concepção mais dinâmica e menos substancialista de cultura;

não se trata, no entanto, meramente de dar conta de novos problemas, trata-se, ao mesmo tempo que isso, de uma ruptura com uma antiga matriz epistêmica que, se não for analisada, nos manterá aquém dos possíveis desdobramentos da referida ruptura;

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