05 março 2007

o capitalismo vive da carência, a falta é constitutiva do seu sistema de produção e consumo...
série: brennanda falta ou carência é o desejo que move o consumo;
a miséria de necessidade se contrapõe aqui à miséria libidinal do impulso consumista, a fome e a sede de consumo, todo o desejo tendo se transformado em compulsão;
o problema se desloca então da subjetividade classista, que fazia do proletário essa espécie de vingador da miséria, de justiceiro ressentido, na cruzada contra o capitalismo;
o problema, então, se fixava (delimitava) numa questão de classes (no qual a classes constituem massas manipuláveis, produtoras de direitos, possíveis de serem agenciadas por grupos políticos visando o poder;
essa classe seria essa espécie de sujeito criada pela sociologia histórica em sua análise do capitalismo;
deslocar o problema para um problema libidinal, de desejos, equivale a desmembrar esse sujeito em impulsos heterogêneos, equivale a desmontar sua estrutura molar, uma para observar esse conglomerado como uma multiplicidade que não seja necessariamente uma heterogeneidade por forças exteriores e intencionais (o poder, a burguesia, o estado, a ideologia, os aparelhos ideológicos, as instituições);
um só corpo passa a comportar uma gama de variáveis, uma multiplicidade de impulsos, a homogeneidade deixa de ser algo natural ao qual a história tende por alguma força consciente externa aos próprios movimentos extemporâneos da história, de seus devires não-históricos;
como diz paulo freire, o opressor pode consistir no próprio oprimido;
essa divisa (nietzscheana, por que não?) possui um alcance antes de mais nada discursivo, pois é a discursividade que permitirá, que dará possibilidade de se desconstruir o sujeito molar que impera no pensamento eurocêntrico do positivismo;
é nas experiências literárias e filosóficas que se experimenta essa outra imagem e concepção do sujeito;
loucos, hereges, marginais, criminosos, serão esses personagens que permitirão a construção, e a subseqüente desconstrução, do discurso positivo de constituição de homogeneidades subjetivas, culturais, morais que normatizam essas sociedades desde sua organização política de estado e mercado;
o discurso social das instituições responsáveis por esses segmentos (esses outros) a partir dos quais a sociedade constituía sua homogeneidade, seu normal e sua normatização, permite vislumbrar, com a análise de seus pressupostos, os modelos utilizados na definição de coletivos homogêneos;
é nesse processo que se vê serem formadas as práticas e as instituições de controle social (do estado ou liberais-religiosas) que são a gênese da ciências sociais;

os selvagens e seu pensamento fornecerão às ciências humanas um modelo incomparável, um contraponto (sobretudo para a desmontagem da etnocêntrica máquina política de colonização) a partir do qual se poderá traçar uma linha de fuga pela qual todo o discurso do modelo evolucionista de produção política moderno poderá ser minuciosamente desconstruído e analisado minuciosamente, revelando cada um dos pressupostos de seu percurso;

num mesmo grupo social, uma classe, os desejos não são heterogêneos por força de alienação, a consciência deixa o lugar de força superior a dever guiar a história;
a intenção do capitalismo será analisada de novas posições psico(pato)lógicas;
desmontar esses personagens sociais planos, imprimir-lhes certas nuances psicológicas, torna-los mais redondos, mais complexos;

esse é o trabalho discursivo realizado por foucault em os homens infames, quando faz desfilar em nossa frente o discurso de condenação dos marginalizados de séculos atrás;
ao apresentar o discurso sobre esses homens o autor consegue o efeito irônico do contradiscurso;

esse é o recurso utilizado no último filme de bianchi, quanto vale ou é por quilo, em que trata ironicamente do discurso escravista/escravagista, numa abordagem que muito nos interessa;
bianchi é um cineasta que flerta com a literatura em seus filme e o resultado é uma supremacia do texto;
esse seu último filme é uma obra que opera basicamente no universo discursivo, com a contextualização e descontextualização de discursos, que cria efeitos de estranhamento;
vale um estudo para seu desenvolvimento em atividade de grupo, visto que estamos definindo a antropologia pela contextualização, espécie de relativização no plano discursivo;

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