15 fevereiro 2007

volta e meia e cá estamos falando de ecologia e educação ambiental para os índios da floresta (pelo menos, dessa vez não nos pedem para falar daquela ética, a do padre);
o discurso ecológico contextualizado (sem descer do céu, absolutizado, como todo discurso de biólogo) remete a outra dimensão: quer se generalizar como se toda a humanidade fosse responsável (o que de fato é) pelo poder de destruição concedido a uma parte sua;
esse avassalador poder de destruição, no caso, de auto-destruição, relaciona-se à tecnologia (!!!)
pára tudo !!! será que eles vão entender o que é tecnologia?
talvez melhor do que nós, que recebemos a tecnologia em doses palatáveis, eles, que a receberam em forma de chumbo, balas, pólvora, vão entender, mas para facilitar vamos colocar entre parênteses (armas, motores, carros, aviões, remédios), prossegue;
dessa forma o discurso ecológico que soa à carta universal dos direitos humanos (com direito a clarins ao fundo), contextualizado, perde esse glamour de voz média universal e passa a ter uma origem certa, determinada;
a partir de revelada essa origem, dificilmente esse discurso poderá ser assumido universalmente, como se pretendia inicialmente com os pomposos títulos que a apresentavam (convenção da biodiversidade);
e se não pode ser assumido universalmente, imagine-se o paradoxo de ser assumido por grupos indígenas;
assim, como se encaminha nossa exposição dos princípios universais (e universalizados) da convenção da biodiversidade;
são três os pontos: conservação, sustentabilidade e biopirataria;
o primeiro justifica-se pelo alto poder de destruição conquistado pelo homem para submeter os demais;
o segundo, que o não-índio precisa reconhecer a grosseria de suas técnicas de exploração da terra, movidas mais pela produção de dinheiro que pelo bem estar global, comparadas às técnicas de convívio com a natureza elaboradas pelos povos indígenas (incluem-se aqui os regimes políticos desses povos);
o terceiro, esse é o mais difícil de se trabalhar, pois trata da legalização dos contratos sobre divisão da renda gerada pelos dois primeiros tópicos;

mais que a fragmentação, a descontextualização positivista gera discursos que são verdadeiras bombas tamanho o seu perigo;
como são armas químicas, o perigo está mais nos campos em que são lançados, no caso esta bomba será lançada no meio da floresta, entre índios;
vislumbra-se de longe, no cheiro, a máquina discursiva da metafísica jesuíta que se instala aqui há cinco séculos;
e há quem (uma extensa linhagem de antropólogos) estabeleça paralelos entre a metafísica cristã e a mística indígena;
por isso, o trabalho discursivo do antropólogo se faz necessário nas interpretações e leituras que possam desativar tais textos que parecem despretenciosos, mas trazem em seus pressupostos cargas explosivas de alto calibre;

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