14 fevereiro 2007

tirado de um jornal velho
o rebanho bovino acreano é o que mais cresce na amazônia;
hoje existem mais de 2 milhões de cabeças de gado no acre;
de acordo com o ibge, nos últimos 30 anos as pastagens do estado cresceram 2.000% e as cabeças de gado, 2.700%;
hoje, mais de 80% das áreas desmatadas estão ocupadas por pasto;
o presidente da federação da agricultura e pecuária do acre, assuero doca veronez, considera que a economia do estado tende para a expansão cada vez maior das fronteiras da pecuária;
é esse o caminho do agrobusiness milionário, a monocultura e o gado, em detrimento da agricultura familiar, de variedade de produtos e divisão de renda;
para ele bastaria comparar as riquezas geradas pela venda de produtos acreanos para outros estados: 77,2% das receitas é proveniente da pecuária bovina, enquanto 21,4% vem do extrativismo, lê-se manejo florestal madeireiro ou venda de madeira, e apenas 1,3% da agricultura;

comentário
tantos anos se passaram e, numa história econômica tão particular, não se percebeu ainda a força do mercado:
que o mercado desterritorializa a produção no capitalismo;
que a produção é definida pelo mercado e não o mercado pela produção;
que o capitalismo, principalmente o do marketing simbólico via media, se constitui da criação de consumidores ao mesmo tempo que de bens de consumo;
que (como se constata na experiência recente do acre, que vai de expoacre à minissérie da florestania) o mercado de subjetividades, especialidade em um país que constantemente precisa de novas faces de acordo com seus regimes políticos e suas leis de segurança, resulta de uma fusão entre duas máquinas: a máquina da história e a máquina do jornalismo;

a revolução liberal
a revolução acreana pouco tem a ver com ideais patrióticos ou coisas do gênero (épico);
como é o caso de muitas revoluções, foi movida por interesses bem particulares;
o mercado de borracha e sua estrutura política patrocinou a revolução;

ciclos
afinal de contas, os ciclos da borracha que parecem suceder-se como estações do ano, não passaram de articulações de um mercado internacional em formação;
foi o mercado da borracha que se utilizou (e se utiliza do brasil) do acre e em troca de bagatelas, instaurou a guerra da borracha, transferindo desde há muito uma mentalidade militaresca para a conquista da selva que deveria, parece, ser feita à bala;
os seringueiros e a revolução
a tal compaixão cristã, que faz de nós colecionadores do ser, impedindo muita vez o devir, associada a crenças sociológicas numa consciência histórica (qual história, ou qual contra-história?) definiu uma imagem histórica, se se pode dizer assim, do extrativista (o seringueiro) bastante problemática em seus pressupostos;
os seringueiros já estavam extintos, o mercado os havia extinto, recupera-los era recuperar um sistema de servidão a eles associado;
todo o seu mito de origem era problemático desde a guerra da borracha às frentes de expansão;
de dependentes foram transformados em autônomos (de quem é esse projeto?);
não me diga que foram eles que decidiram por si só, entre eles se auto-constituírem em reservas, na minha experiência de platéia em políticas públicas sei o que significa a frase: “foram eles que decidiram”;
isso que ainda não toquei no problema da concepção de estado que sustenta esse projeto sustentável;
porque é o estado, e que se doa, o federal, que desadministra a autonomia extrativista, com suas instituições ineficientes, burocráticas;
a não ser que se pense que essas sociedades possam dar jeito no estado, por que o estado...,
e agora o mercado quer o boi, muitos já cederam (traidores do movimento...)

a história demonstrara o poder de fogo do mercado, que é o mercado que define a produção e não a produção que define o mercado, certo que o mercado se reinventa, mas é o mesmo que tem sido disputado há séculos por esses inventores do mercado global;

o que me chama a atenção é que se toma a extinção do seringueiro pelo mercado da borracha como uma injustiça conforme aquelas ocorridas em inúmero momentos da história, quando o mercado descartou sua mão de obra;

como lidar com o mercado, como lidar com a administração do pasto, do agrobusiness que veio nesse mesmo projeto político...;


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