08 fevereiro 2007

se vocês compreenderam isso, vocês compreenderam quase tudo; existe então uma realidade formal da idéia, isto é, a idéia é alguma coisa nela mesma, essa realidade formal é seu caráter intrínseco e é o grau de realidade ou de perfeição que ela envolve nela mesma;
deleuze, aula sobre espinoza

a produção de conhecimento é um dos principais fronts da guerra política pelo poder nas sociedades;
reformulando a assertiva, a produção de conhecimento é uma das principais formas de se fazer política, ou ainda, o conhecimento é uma chave no entendimento da natureza do político;
lembre-se que a definição de uma natureza do político é um debate que se abriu recentemente por aqui;
com foucault fica bastante claro a natureza política do conhecimento: por meio de uma arqueologia discursiva (e não via história e seus idealismos transcendentais) o autor conduz uma genealogia dos discursos jurídicos e científicos em sua relação com a verdade;
a questão central para o pensamento do século dezenove é um princípio na condução do pensamento do autor: a ruptura com a representação clássica, sustentada seja no racionalismo idealista, seja nos empirismos que o desmentem, redefine a relação entre inteligível e sensível;
tal redefinição se dá de forma que o pensamento se dá conta de sua realidade formal (material), para além de sua natureza representativa;
a partir daí, a verdade deixa de constituir numa sobreposição do inteligível sobre o sensível, ou do sensível sobre o inteligível, pois revelam-se em suas naturezas diversas;
a verdade deixa de operar no modelo da metafísica, do plano transcendental, a partir do qual esta é buscada enquanto processo pré-existente, tomada como descrição perfeita de universos a priori;
a verdade se assimila agora a um construto que se pauta em sua definição, mais pelo conturbado contexto em que se constitui, que por pacíficas e harmoniosas esferas onde a verdade esperasse para ser resgatada;
a verdade não se encontra, ela se constitui e se constrói em processos políticos de disputas de saber-poder, de concepções de mundo a serem impostas a indivíduos e culturas;
a verdade então se reveste de seu caráter político, reconhece sua natureza política, ao mesmo tempo, num mesmo processo e que revela a natureza da própria política;
a própria política, assim, deixa de ser definida segundo os pressupostos que sustentavam a velha imagem do conhecimento, e passa a se constituir nesse universo da eficácia simbólica do feiticeiro de lévi-strauss, ou seja, no universo do (virtual);

esse vínculo entre pensamento e mundo, próprio da concepção representativa do pensamento, segundo a qual pensar é representar a realidade dos representados, tomado enquanto princípio do pensamento será colocado em questão por uma linhagem filosófica;
o desvínculo dessas dimensões (típico do pensamento do século dezenove, mas que já vinha do dezesseis/dezessete) é uma chave na constituição de uma imagem do pensamento segundo a qual se possa operar sem os pressupostos do plano de transcendência, ou seja os pressupostos que formam a imagem do pensamento baseada na representação, na realidade objetiva das idéias;

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