18 fevereiro 2007

princípios antropológicos antropologia e etnocentrismo
o problema inicial, que servirá de ponto de partida, será a construção dos conceitos de antropologia e etnocentrismo;
proponho, de saída, a abordagem desses dois conceitos por ter em vista um ponto de virada na antropologia;
esse ponto de virada modifica substancialmente a definição de antropologia, proposta como ponto de partida;
essa proposta inicial de definição caracteriza a antropologia a partir de dados referentes ao seu contexto;
como se define a antropologia no momento histórico em que é criada, como se caracteriza esse momento histórico e quais as características dos inventores da antropologia;

contextualizando o texto
é dessa forma que se caracteriza o contexto em que surge a antropologia: século dezenove, revoluções industriais e científicas, colonizações etc;
a antropologia surge na europa como um segmento da tradição iluminista;

de tendência humanista, civilizatória, messiânica, revolucionária, o iluminismo não demora a se tornar instrumento conservador da civilização burguesa;

o contexto de invenção da antropologia influencia muito sua definição;
pode-se imaginar, para o período referido, uma definição de antropologia: as técnicas de estudo de povos primitivos;

evolucionismo: a antropologia como estudo das origens
no contexto de invenção, de criação da antropologia stritu sensu, vive-se a era plena de um cientificismo europeu que conduz a um etnocentrismo exacerbado;
todo o projeto moderno, na medida em que constrói seu discurso apoiado na evolução técnica, estabelecendo aliança com a ordem política que a sustenta, se define nesse contexto;
é o projeto moderno que cria as condições para o mercado global;

e fez-se a técnica
tal era o espírito europeu do momento: a imagem que fazia (e faz muita vez) de si era a da civilização mais evoluída do planeta, enquanto os demais povos primitivos deveriam se submeter à colonização “para o próprio bem de sua evolução, progresso e futuro”;
é baseado nesse discurso político que as técnicas são universalizadas, naturalizadas, como já o fora a primeira técnica de colonização: a religião;
com essa universalização, a técnica não é vista (pela sociedade européia) como um produto de sua cultura (como já o fizera no campo religioso, ao condenar preconceituosa e autoritariamente as místicas de todos os povos do mundo);
A técnica é encarada, nos moldes do discurso político colonialista, como uma conquista da “civilização”;

é aqui que nos deparamos com um problema interessante;
se a ciência é base do espírito tecnicista que inspira esse discurso civilizatório, ela também constitui uma auto-imagem politicamente comprometida com tal programa;
esse programa foi (e é) chamado de modernidade;
portanto, o que ocorre é uma composição: o contexto técnico da revolução industrial define a ciência (antropologia), ao mesmo tempo em que a ciência projeta e define a técnica;
a antropologia é um produto desse discurso moderno.

a antropologia como técnica
a concepção de técnica parece melhor que qualquer outra fazer a articulação entre as noções iniciais que devem guiar nossos estudos de antropologia jurídica, que são as concepções de antropologia e etnocentrismo;
essa noção (de técnica) é especialmente interessante pelo fato de nos referirmos tanto ao cientificismo próprio da revolução industrial do século dezenove, contexto da antropologia, como à própria antropologia como técnica;
no caso, como é definida então, uma técnica de estudo dos povos primitivos;
esse duplo sentido em que corre o conceito é que nos conduzirá ao problema político fundamental da antropologia;

as origens da antropologia
a antropologia remete à imagem de um estudo das origens da humanidade;
não se pode deixar passar tal implicação: se com o evolucionismo típico do cientificismo do dezenove, o tema da antropologia se caracteriza como a(s) origem(ns) do homem (tema bastante místico ao gosto do evolucionismo que reinventa o espírito dogmático, antes tão próprio à religião), o que se tomará como ponto de partida são as origens da antropologia;
certo que se faz aqui uso de licença poética para uso do termo problemático;
origem é uma outra palavra para genealogia ou, para simplificar nosso estudo, contexto;
toma-se assim, como ponto de partida, a inserção da antropologia em seu contexto histórico e, sobretudo, político;

fatos discursivos
desse contexto histórico e político do século dezenove, toma-se a técnica por tema chave da caracterização;
a revolução técnica preparada pelo espírito iluminista e culminante na revolução industrial, transforma não só a sociedade ocidental, com sua maneira de conceber o homem, de forma absoluta, mas especialmente em relação às outras sociedades;
é no contexto dessas transformações, que têm a técnica em seu eixo, que o espírito etnocêntrico encontra seu apogeu;
na ciência, o evolucionismo construirá provas científicas da superioridade do homem branco europeu para dominar e matar os outros povos, estendendo seus domínios sobre os territórios, as riquezas e as matérias primas desses povos sem estado, sem economia, sem história, sem escrita;
seu atraso justifica o messianismo que irá inspirar o neocolonialismo do projeto moderno;
etnocentrismo e evolucionismo são os traços marcantes que a antropologia herda de sua gênese política e epistêmica;
é essa gênese da ciência antropológica stritu sensu, traçada a partir do século dezenove como contexto; seu objetivo é revelar os pressupostos que se ocultam no discurso naturalizante e absolutizante ainda hoje carregado por essa ‘ciência’;

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