19 fevereiro 2007

o ponto de partida em antropologia elaborar um método antropológico para a definição da antropologia, pois sendo a antropologia, por exemplo uma disciplina tão avessa à história, não se poria iniciar com uma história da antropologia;
um método antropológico para se definir a antropologia: há diversas possibilidades, múltiplos caminhos se dispõem, tomemos um;
optou-se por uma entrada que evidencie alguns dos pressupostos que marcam o discurso antropológico em uma variedade de tempos e lugares;
uma arqueologia que evidencie esses pressupostos pode basear-se num procedimento simples;
elaborar-se uma contextualização do campo discursivo no qual é inventada a antropologia como ciência stritu sensu;
como se constrói a concepção de antropologia que se tem hoje, pode-se construir a concepção de outros tempos: isso não é história, talvez genealogia;
a partir da concepção construtivista de conhecimento, nossa perspectiva será estabelecida como contraponto à concepção tradicional de conhecimento, que concebe o conhecimento como uma técnica de descrição da realidade por meio do instrumental verbal de que dispõe a ciência;
a ciência tradicional opera por constantes, na verificação de verdades pré-estabelecidas no universo sensível, ou na confirmação de hipóteses verificáveis na realidade;
segundo o construtivismo o conhecimento não se trata de uma região fixa, a ser observada em uma pintura ou através de uma janela, e sim como um campo em que, a cada vez que se o penetra, pode-se interferir nele, modifica-lo, construir sentido;
aliás, nessa chave hermenêutica o conhecimento só se justifica como processo, enquanto processo;
temos de um lado o conhecimento tradicional, afirmando a distinção ontológica entre conhecimento e realidade, e de outro o construtivismo, que procura elaborar métodos em que tais fronteiras se diluam e as esferas se interponham;
o discurso criando e sendo criado pela realidade e vice-versa;
a dobra discursiva, quando a antropologia se volta para sua natureza discursiva, deixando seus pseudo-objetos, estabelecidos no plano de transcendência do positivismo, é que ganha uma constituição política;
no momento em que se volta para seus pressupostos, a antropologia se revela um instrumento político-epistêmico que revela suas propriedades originais, a propriedades discursivas herdadas do discurso científico que a origina;
para operar esse curto circuito epistêmico-político que é a volta da antropologia sobre seus próprios pressupostos, a genealogia e a discursividade (que já se esboçam em nietzsche) tem a função de dissipar as fronteiras entre conhecimento e conhecido;
essa operação epistêmica, uma fusão entre mundo do conhecimento e mundo conhecido, tem por conseqüência uma redefinição do caráter político do saber na modernidade;
começa-se a desmontar então a velha noção de verdade científica que remete à metafísica do discurso religioso que configura sua matriz;
ainda que carregue os pressupostos do campo discursivo, da episteme, em que é criada, a antropologia se constitui apontando na direção de um outro modelo de produção de conhecimento;
o lugar em que se situa, na relação entre etnias, povos, e seus pensamentos, sistemas simbólicos, culturas, sociedades, técnicas e, especialmente, políticas, já a lança à margem do campo de circunscrição da ciência tradicional, voltada para o centro do pensamento ocidental;
a disciplina define seu campo como o espaço, a zona de contato do pensamento ocidental, o seu limite, a zona da indiscernibilidade das culturas e seus pensamentos característicos;
enquanto a ciência têm por referência esse centro (etnocentrismo), a dinâmica própria à antropologia é a de voltar-se para a margem desse pensamento, para seus limites e zonas de contato com outros pensamentos;
não demoraria o momento em que a antropologia encontraria sua especificidade metodológica e epistemológica que faria dela uma das ovelhas negras da ciência positivista;

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