11 fevereiro 2007

humano, demasiado humanoo problema político da produção de conhecimento
uma das conquistas dos movimentos sociais na área de educação não está na conquista do ensino, na democratização da educação;
está, talvez, numa contra-democratização da educação, ou num processo de afirmação de saberes marginalizados numa sociedade que se homogeneizou, sob a etiqueta de nação, de maneira bastante autoritária, constituindo o que chamamos de cultura;
produzir educação, produzir educadores populares, por fora dos meios universitários formadores de elites, foi um legado importante da educação popular;
o que importa isso aqui: essa educação se elabora no âmbito do construtivismo, da produção de conhecimento, indo de frente e quebrando com o paradigma positivista do conhecimento objetivista, descritivo, que elabora uma imagem universal do saber a partir de noções como deus e natureza;
diferentemente, uma educação que se orienta pelo social (não-positivista) e não nessas concepções pré-conceituais, mas numa perspectiva do social como construção humana, tomando essa constituição como paradigma;
esse movimento participa de uma ruptura com os modelos de socialização do século dezenove, que vem no embalo de (ou dá embalo a) toda uma revisão epistemológica, na natureza do conhecimento, seus princípios e procedimentos;
as mudanças no pensamento sociológico do século dezenove preparam o campo para a concepção desses espaços sociais em que ocorrerão tais transformações na forma de conceber a educação;
a sociologia de marx, que coloca a luta de classes na história de hegel, dá um enfoque político outro à sociologia positivista;
a partir daí, a educação passa a instrumento de luta de determinada classe, questão de direito a ser garantida por essa classe, deixando de ser considerada, segundo o universo positivista, como um princípio absoluto de descrição de um universo igualmente absoluto;
com isso, destrona-se não somente a perspectiva de uma classe, ou de grupos sociais dominantes, o que se põe abaixo com isso é um modelo de produção de conhecimento, uma matriz ou paradigma que remete ás bases místicas de sua formação;
esse modelo que é posto abaixo é o de uma realidade homogênea que dá sentido à ciência universal e a seu método;

é nessa dinâmica histórico-sociológica que se insere o processo de definição de uma educação indígena, com os inúmeros sentidos que esta pode ter;
ah! então sociologia e antropologia não se diferem tanto assim;
não é bem assim, a sociologia fornece uma abertura que permite a desconstrução da fortaleza cultural do etnocentrismo europeu via epistemologia;
no entanto, o fenômeno que se passa na antropologia redefine o problema como um problema de classes, transpondo-o para um problema de pensamentos, um problema de cunho epistemológico, ou melhor, filosófico;
o viés econômico, que universaliza o capitalismo e seu mercado, propõe uma divisão social de classes, dá à sociedade uma baliza nas diferenças de classe;
para a antropologia, as diferenças culturais não podem se reduzir a diferenças de classe, como muito se pensou numa certa antropologia brasileira;
a oposição, que se desdobra em dualidades, do conflito de classes deixa de fazer tanto sentido ao ser pensada da perspectiva antropológica de uma multiplicidade de recortes da realidade, assim como do status, tanto dessa multiplicidade, como desses recortes;
mas porque criticar marx e a sociologia se nós nem cumprimos com requisitos básicos de suas concepções ?
porque criticar marx se nós ainda não cumprimos sua agenda social que pressupõe a luta pela equidade de classes sociais ?

talvez nessa questão (na forma como ela foi colocada) resida a chave de sua resposta;
a concepção de tempo e de história pressupostos no pensamento marxista constituem um problema central no aperfeiçoamento da antropologia;
como se concebe, de que forma se constroem culturalmente categorias antes naturalizadas em nosso pensamento, tais como tempo, natureza e história ?
assim, a antropologia vai atacar os pressupostos que predispõem o pensamento ocidental e dificultam a abordagem (e desconstrução) de outros pensamentos, bem como sua própria abordagem (desse pensamento sobre si), visto que ele mesmo (o pensamento) se circunscreve em suas categorias, as quais universalizam propriedades a ele inerentes;

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