26 janeiro 2007

um discurso político
, ou quem fala quando o outro fala para iniciar este debate sobre política e discursividade, quero retomar uma questão perspicaz do amigo paulo, feita para mim em uma de nossas boas prosas: o que é política?
(deixa: não se lê a fala com tom universal, mas com um tom de quem diz: amilton, o que você quer dizer com política...);
pois é, uma boa hora para revestir a palavra com o sentido que ela terá articulada com outras, que vem sendo arduamente trabalhadas, nessa tessitura;
o interesse na empreitada sobre a política resulta das urgências: primeiramente, como definir a concepção política (ou de política) de um curso intitulado antropologia política (ou, conforme meu recorrente ato falho, antropologia e política);
assim, como definir o caráter político da meta-antropologia, da meta-teoria que caracteriza a antropologia a partir de lévi-strauss, quando a disciplina ganha sua dimensão epistemológica hoje característica;
assim, como definir o caráter político do movimento de dobra metodológica da antropologia sobre seu próprio corpo, quando se desloca a abordagem do problema antropológico para o interior das cosmologias ameríndias;
assim, como definir o caráter político da discursividade, visto que nosso interesse sobre a discursividade e os desdobramentos do enunciado é francamente político;

a partir deste problemático rizoma de natureza política, propõe-se retomar a questão filosófica proposta pelo amigo paulo: o que é política? ou pelo menos, o que queremos que ela seja (brincadeira com a utopia do plano de transcendência);
como encontrei na discursividade um eixo que contata as diversas coordenadas que impulsionam o viés antropológico resultante desta plataforma, a discursividade será uma diretriz na definição de política que se busca aqui desenhar;
o impulso desta conexão associa-se às experiências junto aos conflitos travados em torno da construção de princípios que pautem a definição dessa noção, tão enigmática porque tão óbvia e simples: políticas públicas;
por isso, portanto, iniciar problematizando a unanimidade que reveste essa expressão, o mesmo que ocorre quando se fala, em termos de discursividade, em dar a voz ao outro;
é um velho problema antropológico que se julga cinicamente transpor na justificativa da metodologia da pesquisa, ao citar as falas do interlocutores, respeitando inclusive seus erros de português (no original, ipsis literis), algo como jogar o interlocutor numa arena de leões e não lhe dar ao menos os instrumentos utilizados pelo domador;
no entanto, o problema aqui ganha consistência epistêmica, visto que o antropólogo, gestor da política de comunicação própria do trabalho (seja material acadêmico, “técnico” ou jurídico), deve reconhecer o campo ou plano em que se elabora esse discurso;
o plano que oculta seus processos de constituição se chama plano de transcendência;

fazer falar em termos de escritura é outro processo: constitui-se enquanto plano de imanência, mantendo à tona as suas condições de produção e apontando seu lugar no processo de construção do sentido;
entre os procedimentos próprios ao plano de imanência situam-se: redefinir conceitos, questionar unanimidades, problematizar meios e linguagens, desdobrar pressupostos etc;
para efetivar tal escritura, exige-se um trabalho de corte e polimento nas categorias que deverão estar prontamente alinhadas a este plano;
conceitos como enunciado, subjetividade e sujeito, representação entre outros precisam ter consistência conceitual e fazer parte de um campo semântico harmônico ou compatível;
no âmbito da tarefa que aqui se cumpre, a noção de subjetividade é um conceito chave por seu lugar central em no pensamento e na metafísica ocidental, sendo um dispositivo chave do plano de transcendência;
o sujeito tomado como algo constituído, desprovido de problemas, como imagem acabada do sujeito transcendental é a forma do instrumento utilizado pelo plano de transcendência;
o sujeito aparece aqui como pressuposto do texto, como pressuposto do diálogo, como figura já anteriormente definida da intervenção política abordada;
é, portanto, este caracter que o define (e que define o próprio plano) como instrumento do plano de transcendência;

Visitor Map
Create your own visitor map!