09 janeiro 2007

rumo a antropologias amazônidas
volto às distintas concepções da antropologia – e do pensamento – inglesa e da antropologia francesa;
enquanto um se reveste de um projeto que visa redefinir o estatuto da ciência e a natureza do texto, o outro reforça a cadeia em que se mantém encerrado o discurso de tradição metafísica;
os críticos não-construtivistas do construtivismo proposto por foucault, deleuze e outros, desconfiam há muito da possibilidade de se desenredar da tradição metafísica: o velho riso cínico diante do terremoto nietzsche;
nessa crítica, em que se distinguem atitude e conhecimento, a própria mofa em relação à nietzsche se confunde entre o discurso irônico de nietzsche e a fala do feiticeiro, o de assim falava... ;
já me referi a essa passagem, passagem do zaratustra com que jogo em meu texto o que se ouve... (mattos, 2005), passagem em que o autor desdobra a voz de zaratustra nos personagens do feiticeiro e do homem de ciência na tribuna da caverna, em que nos identificamos com esses pseudo-zaratustras e caímos do cavalo;
jogo de linguagem que nos possibilita deduzir toda uma teoria do conhecimento, teoria lingüística ou teoria dos enunciados que está desdobrada em diversas dimensões e procedimentos pela obra do autor e aqui se desenrola em recursos literários de regimes enunciativos;
teoria que nos possibilita desdobrar vias e articulações com a leitura de nossas referências, costurar com as linhas de fuga dos autores que estimulam a criação de boas paisagens conceituais;
bem, o que iniciei a dizer, enfim, é que são zelosos os guardadores da concepção inglesa, que retoma a tradição metafísica pelo viés do empirismo e do liberalismo;
o risco das experiências criadoras, de poder deixar de lado a segurança do mundo das essências, é ameaçador para aqueles que trabalham com as concepções reacionárias e os conceitos conservadores;
de fato, a experiência de devir propõe uma ruptura milenar no pensamento, ruptura com o muro que se cristalizou na distinção que tem importante passagem em aristóteles entre cultura e natureza, entre o que se define por natureza do cultural e natureza do natural, em que se pauta o estatuto que define essa diferença;
aliás, dando um passo a frente, que apropriação se fez dessa distinção que dá fundamento à própria percepção, percepção essa que é tomada como elemento do âmbito da natureza e não em sua dimensão cultural, ou seja todos os homens perceberiam de forma homogênea;
remetemos novamente à o que se ouve..., já que foi este nosso ponto de concentração a partir do texto de nietzsche a concepção do trágico, em que trata bem essa construção cultural da percepção e a forma com que ela se apresenta naturalizada para dar base à filosofia e à ciência;
essa construção da percepção, articulada à dimensão textual do discurso, é um ponto privilegiado em nietzsche, é o ponto em que se articula também a construção da concepção de consciência e de psicologia que sustenta igualmente esse discurso filosófico e científico visado (genealogia da moral);

fala-se, entretanto, do primeiro nietzsche, pois o autor mesmo mede as problemáticas conseqüências de enveredar e apostar nessa via e converge sua mira e centra fogo na problemática da subjetividade, da construção da pessoa, do homem ocidental e sua dimensão discursiva;
portanto, a articulação construção de corpos e construção de pessoas, de subjetividades, apropriação dos regimes de representação para a confecção de sujeitos está problematizada na anti-filosofia e na antropologia de nietzsche;
ainda assim, insisto que o autor coloca em questão o problema da separação entre natureza e cultura tomando como problema importante o estatuto da percepção e sua dimensão na construção do conhecimento, ou melhor, sua apropriação enquanto princípio na ciência ocidentalista;
ao se apropriar de máquinas de produção de percepção o pensamento se define como poderoso instrumento na produção de realidades, na produção de fatos, de naturezas;
aqui se estabelece uma nítida aliança entre a função do discurso religioso e do discurso científico ao longo do mito do processo de evolução do capitalismo moderno, leia-se história ocidental;
como ambos reificam valores já pressupostos, dogmas mesmo, julgando estar partindo de princípios universais, boa parte desses princípios baseados na percepção e na concepção de percepção como algo naturalizável e universalisável;
como funciona hoje ainda essa apropriação do natural e do cultural e de que forma a indústria do consumo do capitalismo global os utiliza em suas definições de necessidade;

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