14 janeiro 2007

o discurso, assim concebido, não é a manifestação, majestosamente desenvolvida, de um sujeito que pensa, que conhece, e que o diz: é, ao contrário, um conjunto em que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua descontinuidade em relação a si mesmo; é um espaço de exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares distintos;
arqueologia do saber: 61

o enunciado no discurso
o enunciado consiste na dimensão subjetiva do texto, no campo em que se constituem as subjetividades, enfim, na construção de propriedades subjetivas compatíveis com o discurso, conforme definido aqui;
para estabelecer tais princípios enunciativos, conforme feito em relação ao discurso, toma-se como referência a ruptura com o modelo representativo da linguagem, que fornece uma imagem da subjetividade como um bloco, o sujeito como unidade – quer se trate do sujeito tomado como pura instância fundadora de racionalidade, ou do sujeito tomado como função empírica de síntese, nem o ‘conhecer’, nem os ‘conhecimentos’ (p.61);
opera-se no enunciado com uma dinâmica da dispersão: diversos status, diversos lugares, diversas posições que pode ocupar ou receber quando exerce um discurso, descontinuidade dos planos de onde se fala (p.61);
o modelo de subjetividade da dinâmica da representação e da identidade palavras/coisas se define como uma consciência idêntica a si;
a imagem do sujeito que se perpetua em nosso sistema de produção de conhecimento depende desse universo da representação, constitui-se nele e , portanto, pressupõe sua perpetuação;
é esse modelo de subjetividade que opera como pressuposto organizador, caracterizando uma concepção de autor, com todas as suas implicações políticas, típica desse universo da representação;
constituir-se um modelo de análise e produção textual a partir da dispersão, no qual a experiência formal esteja centrada no devir;
é para isso que se opera tal genealogia da representação, em que se busca acionar seus recursos narrativos, seus procedimentos textuais, pois tais procedimentos são o material de que se dispõe para a atividade de produção com devires;
o que se busca destacar aqui é a contribuição da perspectiva epistêmica, de se colocar nesse plano epistêmico em que se opera a antropologia numa esfera específica;
articular discursividade antropológica, ou seja, a antropologia produzida a partir de tais referenciais discursivos, com o/no plano epistemológico, em que pode construir teorias virtuais nas quais se esboça concepções alheias aos nossos pressupostos, aos nossos procedimentos, aos nossos valores;
entre autor como unidade subjetiva e texto como dispersão de sujeitos, há um abismo cuja ponte que leva à transposição de uma a outra beira é parte do projeto aqui proposto;
essa subjetividade da dispersão, o devir, caracteriza-se em foucault como especificidade de uma prática discursiva, por oposição à definição metafísica de uma consciência abstrata e anterior ao discurso;
a partir daí, o discurso será buscado como campo de regularidade para diversas posições de subjetividade (p.61);

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