23 janeiro 2007

makakos 4 o que eles chamariam de natureza

a primeira chave que o autor nos fornece para o exercício de re-configuração perceptual é o distanciamento que precisamos ter no uso da linguagem: não crer que o nome se confunde com a coisa (pois só a partir desse distanciamento que poderemos suprimir a dualidade da representação);
cumpre-se atentar para o plano de imanência em que nos deslocamos: um plano epistêmico que suprime a dimensão extraconceitual;
lembre-se, o meio é o conceito de natureza, o objetivo é suprimir a distinção fundamental entre natureza e cultura, instaurar-se uma esfera estritamente conceitual: plano de imanência;
portanto, utilizar-se da linguagem com desconfiança e parcimônia: os nomes não são decalques das coisas, assemelham-se a coordenadas que permitem seu mapeamento;
é dessa forma que podemos criar um conceito virtual de natureza na esfera do pensamento indígena;
esse conceito não existe nesse pensamento, não é uma categoria nativa no sentido clássico, ele é construído a partir de coordenadas fornecidas como desdobramentos do perspectivismo;
é o perspectivismo, como exercício de epistemologia indígena, que conduz na teoria indígena virtual daquilo que eles chamariam de natureza;

como vimos anteriormente (há antropologias e antropologias... 1 e 2) chamar é um verbo há muito presente na concepção do perspectivismo;
trabalha-se com definições e redefinições de conceitos (plano de imanência) e, portanto, opera-se com a arbitrariedade própria da língua, um exercício perceptivo para que não nos fixemos em definições como decalques de coisas, pois definições são arbitrárias;

imaginar é um verbo novo no vocabulário do perspectivismo e serve para delimitar, para exercitar esse distanciamento proposto aos se entrar na esfera epistemológica;
estamos na esfera da imaginação, é aqui que opera nosso pensamento ao ser ejetado de sua dimensão extraconceitual, ao despojar-se de sua naturalidade;
o exercício primeiro: como imaginamos os índios e como que, ao imagina-los, por nossos pressupostos, os imaginamos como parte da natureza ou de uma esfera extra-humana;
é assim que os indígenas são imaginados por nós como parte dessa esfera extraconceitual que denominamos natureza;
o contraste entre nosso pensamento e o seu, inicia-se pelo fato de sua concepção epistêmica situar-se no contraponto do natural, o social;
é por isso que seu pensamento não admite (ou admitiria) uma esfera extraconceitual, por não conceber uma dimensão inerte, desprovida de envolvimentos sociais, essa que nós chamamos natureza;
a partir daí, da idéia de que as relações de uma sociedade com a natureza, diferente do que pensamos, não possa ser concebida como relação natural, mas como relação social, derivam-se dispositivos simbólicos específicos (além de formas sociopolíticas determinadas);
os dispositivos simbólicos específicos constituem o instrumental conceitual com que uma sociedade concebe o real, sintoniza-se com ele;
aqui se faz valer a arbitrariedade da linguagem e, mais veloz, a arbitrariedade própria do conceito e de seu plano de imanência;é a essa arbitrariedade, constituída a partir da experiência lingüística, que se contraporá a univocidade dos parâmetros extraconceituais (lê-se aqui: a nossa abstração onipresente chamada natureza, conceito extraconceitual por definição);

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