04 janeiro 2007

do virtual 2
a lição da etnologia, lição dada por outros universos criativos, é a de que a linguagem constrói referentes;
por se manterem na superfície, as linguagens tem a propriedade de fazer a interpenetração de corpo e linguagem;
é essa contribuição trazida na reflexão sobre a eficácia simbólica de lévi-strauss, apagam-se, aqui, as fronteiras entre cultura e natureza, tão bem delimitadas em nossa cultura pela ciência racional que teria exorcizado o misticismo do pensamento, ao tomar a metafísica como recurso estritamente estrutural;

a lição, que escapou ao leva-la ao pé da letra – ou justamente por não leva-la de fato ao pé da letra, ou ainda por considera-la em um código ainda não disponível – é a de que não são tão claros os divisores, os marcos que definem processos naturais e culturais;
a linguagem cria mundos, concebe referentes: uma inversão do universo logocêntrico em que o ocidente está, há tanto, imerso;
esse pensamento que visa apreender o universo com a linguagem, apostando na fidelidade desta pena, utilizando-se politicamente dessa fé, nas disputas de força, nos jogos pelo poder;
essa fé em que há um mundo comum às culturas, um mundo por trás do mundo de aparências, a ser resgatado pelos homens com o auxílio da linguagem, o qual serve de arma na submissão da percepções dissonantes;
mundo que pode ser descrito, decodificado, interpretado, descoberto;
a inversão que se desenha consiste na manifestação de um pensamento em que universos são criados a partir de palavras, uma liberdade em relação às restrições da verossimilhança, algo inconcebível para o ocidente, que persegue a verdade que lhe trouxe o poder sobre os outros povos;
algo inconcebível para um povo cujas instituições ensinam e exercitam, nos formam e conformam na direção da unificação do mundo e do universo a sua imagem e semelhança;

essa inversão proposta pelo pensamento indígena opera uma inversão na tradição ocidental a partir do momento que passa a constituir um procedimento, ou melhor, uma via a ser tomada, marco, princípio para o pensamento da antropologia;
a possibilidade dessa inversão da base metafísica se dá a partir da abertura para o pensamento e as categorias nativas, quando se começa a abrir espaço em nosso pensamento e em nossos pensadores para a crítica proporcionada por outros pensamentos;

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