23 janeiro 2007

da série makakos (1o verdadeiro problema antropológico, portanto, não é o de determinar a relação das sociedades indígenas com a nossa natureza; o problema é saber como as sociedades indígenas, ao se auto-determinarem conceitualmente, constituem suas próprias dimensões de exterioridade;
evc, a natureza em pessoa;
o corpo da antropologia
a definição de antropologia sustentada no (e que sustenta o) texto retoma a definição de, há quase trinta anos, a construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras;
esse texto de seeger, da matta e viveiro de castro operam na tradição de mauss, que rompe com o paradigma que sustenta (e é sustentado pela) antropologia inglesa e sua concepção representativa;
enquanto a antropologia inglesa opera na matriz da representação, a antropologia francesa já busca atalhar essa concepção, mesmo antes das idéias estruturalistas chegarem, com a obra de mauss, que propõe a construção de conhecimento antropológico com categorias nativas;
os autores definem essa atitude como definidora não só do objeto da antropologia, estendendo-a a sua metodologia e mesmo à sua especificidade enquanto disciplina, relegando as demais atitudes, ao modo de lévi-strauss, a sociologia ou história indígena;
essa definição desloca o problema antropológico para uma região e uma materialidade específicas: a dimensão epistemológica;
a partir dessa definição, toda e qualquer abordagem antropológica passa necessariamente pelo crivo epistemológico, tinge-se de caráter epistêmico;
operar no plano epistêmico resulta em algumas exigências teóricas e metodológicas;
a interlocução pressuposta se dá entre modelos de conhecimento com especificidades próprias;
os conceitos de nossa epistéme não podem trafegar impunemente de lá pra cá e vice-versa;
nossos pressupostos deverão ser suspensos, pois não tem a mesma validade em outra cultura e essa suspensão pode implicar contribuições na reformulação desse mesmo conhecimento;
essa reformulação se dá pelo fato de se circunscreverem as causas políticas que motivam tais pressupostos numa espécie de genealogia necessária de tais conceitos;
o enfrentamento desses sistemas de conhecimento coloca nosso saber numa outra perspectiva, já que ele perde necessariamente o caráter absoluto que o define;

os elementos distintivos colocados agora, referem-se ao vocabulário filosófico assumido;
tem-se a questão da auto-determinação conceitual própria a essa epistéme e, assim, o problema da exterioridade nesse pensamento;

para operar a supressão da dicotomia natureza/cultura que funciona como princípio seja em nossa moral religiosa, seja em nossa moral científica, via teoria virtual indígena, é acionado o perspectivismo;
essa teoria das perspectivas encontra respaldo etnográfico em mitos e ritos das sociedades estudadas, a partir dos quais se pode elaborar um modelo de conhecimento;
o perspectivismo encontra no trato do corpo pela ciência indígena a linha de fuga com a qual opera a tal supressão da dicotomia metafísica: o corpo;
no âmbito dessa ciência xamânica, o ponto de vista que pode ser explorado determina-se pelo corpo, um corpo que deve ser conceitualmente definido na especificidade de seu uso;
esse corpo não se define como fato, como se define para nós numa extensão da definição de natureza, corpo como objeto inerte das ciências físicas e biológicas;
corpo aqui estende-se para além da sua constituição orgânica, igualmente uma construção simbólica, para uma constituição afetiva incorporada num habitus;
esse habitus caracterizará a cultura única ou homogênea que será o eixo móvel para multinaturalismo;
tomemos um eixo só para exemplo, o eixo da predação: o corpo define a perspectiva e a predação como habitus define como determinada espécie conforma sua realidade, constitui sua normalidade, sua naturalidade em relação às espécies com as quais propõe ou realiza trocas sociais, sejam seus predadores ou suas presas;

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