22 janeiro 2007

antropologia e cinema
penso que, com esses apontamentos, pode-se dar início, ou seguimento, a uma proposta de reflexão que tem sido elaborada aqui;
a proposta de elaborar uma estética audiovisual a partir da antropologia segue os passos acima;num primeiro momento romper com a concepção de representação oficial no regime de percepção do pensamento ocidental;
o filme, assim como a antropologia, não se pode confundir com descrição de uma realidade pré-concebida que se está a representar, e sim constitui sua linguagem a partir da crítica de tal sistema de representações (em suas genealogias filosóficas, religiosas, políticas etc);
definida em seu caráter formal a antropologia opera com jogos perspectivos, associando-se às práticas discursivas e jogos de enunciados das diversas linguagens(regimes sígnicos, sistemas expressivos);
essa definição apropriada ao cinema, a linguagem do documentário pode trazer contribuições valiosas em termos de criação de regimes de imagens;
esse alheamento da cultura ocidental, o ato de lançar um olhar estranho que subverta o próprio olhar daquele que assiste ao identificar o absurdo de hábito cotidianos através da experiência desse olhar cinematográfico;
um recurso interessante no documentário é a confiança que o espectador atribui ao filme, ao colocar-se na crença representativa de que o filme documenta a realidade vivida e comum (uma realidade da qual se compartilha o estatuto e o código de valores sobre ela, a tal realidade oficial);
o cineasta então tem o poder de tomar esse olhar confiado pelo espectador e conduzi-lo seja para reafirmar o seu mundo confortável, seja para subverte-lo, conduzindo-o por códigos dissidentes;
cabe lembrar que o poder de apropriação de discursos por parte do espectador não pode ser subestimado, pois a televisão treina-o diariamente a absorver os mais violentos discursos de dissidência na perspectiva conservadora do estado, do mercado e da sociedade;
para poder pegar esse espectador é preciso ser rápido, preciso no uso dos recursos;
em certos momentos do trabalho apresentado conseguimos operar com a dobra do olhar sobre si, do homem ocidental voltado sobre seu código de valores e suas contradições;
a antropologia opera com essa dobra do homem ocidental sobre si mesmo, passando pelo outro e voltando para si, portanto, diferente de quando partiu;

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