16 janeiro 2007

antropologia conflitiva
entre os motivos por que atravessamos ultimamente um estudo das ilusões de óticas está a intenção de desmistificar a objetividade aparente da descrição etnográfica;
busca-se assim, circunscrever e revelar o condicionamento com que se toma a evidência do descritivismo objetivante, o qual sustenta nossa percepção pré-epistêmica da antropologia como descritora de mundos marginais, máquina que não poderia se voltar sobre si mesma;

o empirismo que nos leva a crer na transparência da linguagem, assim como no valor supremo da transparência e na neutralidade como método, não teria, portanto, descido do céu, e sim estaria sendo constantemente atualizado em nossa cultura epistêmica, em seu universo axiológico, seu campo de valores;

a interferência em que resulta a presença do pesquisador e seu olhar sobre a comunidade não seria unidimensional, não estaria, cá entre nós, encerrada no âmbito do descritivismo objetivante que inventa essa paleta idealizada, que não teria pintor a porta-la, uma paleta trancendente, um “olhar do mundo do conhecimento”, um mundo sem política;
esse olhar transcendente, sem sujeito é que define essa antropologia, pois não pode se assumir politicamente em ação e, assim, cria essa aberração idealizada, o nativo, descrita do ponto de vista do nada ou do deus ocidental que tudo observa-domina;

não é nesse universo do empirismo idealista que se dá a interferência ou alteração, ou intervenção, ou seja o que for;
no devir da antropologia do conflito, a alteração será projetada para o plano epistêmico, visando circunscrever, inicialmente, o idealismo fundante da prática antropológica descrita até então;
a neutralidade objetivante não terá, portanto, o valor positivo e pressuposto que tem lá;
busca-se aqui circunscreve-la, critica-la traçando o caráter;
além disso, a exportação ao plano epistêmico define alguns de seus pressupostos e desdobramentos necessários;
numa antropologia conflitiva não se tem como pressuposto o plano transcendente da descrição de uma alteridade idealizada;
aliás, se pode tê-lo, desde que se revista de um corpo epistêmico, ganhe dimensão na composição textual como sujeito viabilizado por enunciados;
no entanto, até se chegar na constituição do sujeito no universo epistêmico que caracteriza o início do trabalho antropológico, outras dimensões de conflito, outro campos institucionais foram estabelecidos e outras batalhas foram travadas;

a pressuposição do tal espaço transcendente da natividade idealizada, tão evidente (para o olhar pré-epistêmico) que não se chega a questionar sua validade, é produto (a partir da dimensão epistêmica em por que, aqui, me desloco) é produto de práticas antropológicas que não problematizam os conflitos políticos e institucionais que a precedem, tomando-os, ingenuamente, como pressupostos livres de desenvolvimento;
enfim, produto de práticas antropológicas que ignoram o universo político no qual essa própria disciplina é imaginada;
e, assim, propõe-se suspender valores como princípio metodológico justamente na hora que tais valores entram em ação;


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