24 dezembro 2006



transcriação livre do texto o andarilho de nietzsche
o estranho na estrada, o andarilho sem ninho num mundo impessoal, só isso, sem vítimas, sem mortos, ou, sequer, feridos, pássaros intactos, a salvos, de preda;
nada mais muito do que isso; seu coração vive em trânsito, em trânsito se desprende da demasiada e depressiva pressa que nos prende a todos, inclusive eles, nessa cápsula de sentido, nessa ilha de consciência;
sem pressa caminha o peregrino, e a cidade que o entrevê, sem saber lhe tem ódio, sem saber o que faz assume sua crueldade;
há tanto tempo, toda noite, o mesmo; que noite virá, que sol virá?; que tempo fará?
preso para fora de casa, pra fora da cidade, o caminhante tem toda a noite para si, tem consigo a intimidade da noite, o toque da lua nova é só seu, só ele está despido e, nu, pode receber esse toque;
e vem a noite, como um sol negro, a noite sobre a noite o apavora; o entorpecimento o captura, o atordoa sentir-se noite como a noite: sua prova;
abandona-se para escapar com vida, sobreviver;
atravessando a eternidade dos sóis entrevê um deserto de olhares, olhares secos, olhares áridos, olhares que dragam, estéreis: os olhos da cidade procuram seduzi-lo numa ingenuidade embriagada;
o sacrifício que depara é desprovido de glória, um sacrifício inglório e banal: simples esterilidade;
acolhido pelo perigo, o andante atravessa o deserto do dia;
atravessa tendo por impulso, por vezes, o vento de outro deserto, que torna seu passo mais leve, que o faz caminhar;


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