30 dezembro 2006

série: ilusões óticas
volto às distintas concepções da antropologia – e do pensamento – inglesa e da antropologia francesa;
enquanto um se reveste de um projeto que visa redefinir o estatuto da ciência e a natureza do texto, o outro reforça a cadeia em que se mantém encerrado o discurso de tradição metafísica;
os críticos não-construtivistas do construtivismo proposto por foucault, deleuze e outros, desconfiam há muito da possibilidade de se desenredar da tradição metafísica: o velho riso cínico diante do terremoto nietzsche;
nessa crítica, em que se distinguem atitude e conhecimento, a própria mofa em relação à nietzsche se confunde entre o discurso irônico de nietzsche e a fala do feiticeiro;
já me referi a essa passagem, passagem do zaratustra com que jogo em meu texto o que se ouve...(mattos:2004), passagem em que o autor desdobra a voz de zaratustra nos personagens do feiticeiro e do homem de ciência na tribuna da caverna, em que nos identificamos com esses pseudo-zaratustras e caímos do cavalo;
jogo de linguagem que nos possibilita deduzir toda uma teoria do conhecimento, teoria lingüística ou teoria dos enunciados que está desdobrada em diversas dimensões e procedimentos pela obra do autor e aqui se desenrola em recursos literários de regimes enunciativos;
teoria que nos possibilita desdobrar vias e articulações com a leitura de nossas referências, costurar com as linhas de fuga dos autores que estimulam a criação de boas paisagens conceituais;
bem, o que iniciei a dizer, enfim, é que são zelosos os guardadores da concepção inglesa, que retoma a tradição metafísica pelo viés do empirismo e do liberalismo;
o risco das experiências criadoras, de poder deixar de lado a segurança do mundo das essências, é ameaçador para aqueles que trabalham com as concepções reacionárias e os conceitos conservadores;
de fato, a experiência de devir propõe uma ruptura milenar no pensamento, ruptura com o muro que se cristalizou na distinção que tem importante passagem em aristóteles entre cultura e natureza, entre o que se define por natureza do cultural e natureza do natural, em que se pauta o estatuto que define essa diferença;
aliás, dando um passo a frente, que apropriação se fez dessa distinção que dá fundamento à própria percepção, percepção essa que é tomada como elemento do âmbito da natureza e não em sua dimensão cultural, ou seja todos os homens perceberiam de forma homogênea;
remetemos novamente à o que se ouve..., já que foi este nosso ponto de concentração a partir do texto de nietzsche a concepção do trágico, em que trata bem essa construção cultural da percepção e a forma com que ela se apresenta naturalizada para dar base à filosofia e à ciência;
essa construção da percepção, articulada à dimensão textual do discurso, é um ponto privilegiado em nietzsche, é o ponto em que se articula também a construção da concepção de consciência e de psicologia que sustenta igualmente esse discurso filosófico e científico visado, vide genealogia da moral;

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