24 dezembro 2006

isto não é um cachimbo: óbvio perigoso
o que se tem no quadro de magritte...
pode-se pensar num primeiro percurso para dar conta da questão;
o caminho trilhado nessa primeira possibilidade nos conduz pela distinção entre imagem e real, proposta pelo enigmático signo, entre o cachimbo desenhado, que tenta nos enganar ao pretender assemelhar-se a um cachimbo, e o cachimbo verdadeiro, cuja imagem o desenho se apropriou;
é óbvio: tem-se o desenho de um cachimbo e uma frase que diz "isso não é um cachimbo" e conclui-se disso que a imagem não é a coisa, que o desenho não é o cachimbo verdadeiro, no caso representado pela palavra cachimbo;
bem, o enigmático cachimbo “verdadeiro”: uma velha história há tanto tempo contada e recontada: como escapar a ela?
sobre o enigmático cachimbo “verdadeiro”: alguém já viu esse misterioso cachimbo do magritte... há quem diga que magritte nem fumava...
quero um dia escapar a esses sujeitos ocultos, os verdadeiros e os justos, para, enfim, me ater às linguagens disponíveis à análise: discurso visual e discurso verbal;
o que está oculto no discurso desdobrado acima: enquanto a palavra nos remete ao suposto cachimbo “verdadeiro”, a imagem é só uma imagem;
assim, a palavra não só evidencia sua potência ainda soberana em nossas construções mentais, também se articula com nosso desprezo pela imagem diante dela, a verdadeira forma da representação;
subsiste nesse dilema o valor que está pressuposto em nossas avaliações: o virtual nos assombra como a forma do fantasma, nós que estamo imersos no mundo do virtual (globalismo), pois a dinâmica de nossa representação ainda obedece a platônica distinção modelo/cópia;
a imagem, forma do virtual, é vilipendiada como cópia do modelo, da idéia, enquanto a palavra suprime as diferenças ante a coisa em si do “verdadeiro”;
acreditar no “verdadeiro” equivale a manter a crença, predefinir um percurso de pensamento que sustenta uma dimensão paralela à linguagem, o mundo por trás da linguagem;
sustentar esse mundo que sustenta as palavras assimila-se a não devir o poder de produção que define a linguagem, poder esse que consiste em ver a linguagem como linguagem para se permitir assumi-la como mundo;
é este o mesmo dilema do mito, que por vezes se precisa reifica-lo para se acreditar nele, não se pode acreditar nele sendo mito, necessita-se definir sua irrealidade;
enquanto não se assume a materialidade da linguagem não se pode distingui-la de seu referente;
para devir, só liberando a forma;

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