25 dezembro 2006

construção da antropologia1
em tão pouco tempo tornou-se quase lugar comum o que dizíamos há um ano neste bloco: a antropologia opera com perspectivas, com agenciamentos de pontos de vista;
essa definição procede de um veio da antropologia que pode ser situado a partir da intenção de uma ruptura com certa concepção de conhecimento de tradição metafísica que pressuporia um mundo que sustenta a linguagem, um universo de representação pautado e valorado a partir da verossimilhança, tendo por referência a fidelidade a um constructo perceptivo pressuposto;
a ruptura com essa dinâmica de conhecimento, cujo positivismo é um marco crepuscular, vai se constituir no procedimento construtivista, que, aqui, remontará ao devir;
no romper com esse modelo metafísico, transcendental ou histórico, como se queira chamar, propõe-se o devir como procedimento de um pensamento trágico em contraponto ao ser que modela o pensamento metafísico;
no devir, concebe-se o mundo como constructo de representação, de linguagem: o mundo não pode ser descrito pela linguagem, pois ele não está pronto em lugar algum, ele está em constante construção;
pressupor um mundo pronto e valorado, no entanto, é a arte política da ciência ocidental, que montou um arsenal bélico e religioso para sustentar durante séculos sua concepção de mundo e conhecimento a povos sem mundo e sem concepção de conhecimento;
portanto, esse mundo sustentado como referência a nossa linguagem é um produto que busca reificar um projeto que resulta de uma modelagem que remonta há séculos e que articula história, filosofia, pensamento religioso, ciência, tudo isso para submeter o saber dos povos não ocidentais;
no entanto, no momento, a veia política que nos interessa é outra, que se relaciona mais com os procedimentos dessa antropologia da perspectiva, das inteligências coletivas, de modelos de produção de conhecimento que explorem regimes enunciativos que reformulem a forma de gestar as vozes do interlocutores num texto antropológico, pois aqui a gestão das vozes é a dimensão política mais importante do texto;
a condução política aqui não está associada à militância do antropólogo, a própria concepção de antropólogo, autor e sujeito foram reformuladas com a reconsideração a figura do objeto, do nativo, do interlocutor;o caráter político do texto se associa à distribuição de seu regime narrativo;

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