03 dezembro 2006

ailton krenak durante exposição em rio branco acre (diálogos interculturais) conhecimento perspectivo z
o que faz o interesse aqui de uma perspectiva como a do ailton krenak no figurino guerrilheiro é o movimento de revelar-nos a maneira com que continuamos a nos situar – mesmo os indígenas – no horizonte de uma sociedade unidimensional e homogênea, ou seja, da sociedade dominante, segundo coordenadas definidas por essa dimensão, por essa cultura, por sua dinâmica, seu código de valores;
a isso ele se referia como o grande lençol ou bandeira que se estende sobre nossas mentes, homogeneizando a sociedade civil do caribe ao pampa;
em sua guerrilha cultural, busca circunscrever, ou enrabar, como diria deleuze, a antropologia;
não procura acordos ou chegar a consensos sobre conceitos, mesmo o de cultura;
sua concepção de diálogo é outra e o intercultural redefine a própria concepção de diálogo;
para esse ativista, o poder-conhecimento se produz e define na dinâmica do conflito;
é esse o seu caos criador que se tentava de toda forma doutrinar, por parte de palestrantes e organizadores, em um cosmos trafegável, já que estamos limitados a decodificar negativamente o conflito e positivamente o consenso, mesmo na construção do conhecimento e dos direitos legais, campos em que o conflito é a própria condição;
esse caos criador descende de um sistema de organização política indígena que possui a guerra e suas leis como princípio, no qual a guerra tem valor positivo, em que os guerreiros são figuras de prestígio
[1];
segundo essa dinâmica da guerra, das máquinas de guerra, o pensamento não pode pautar-se pelo consenso em torno de conceitos e suas definições;
é, de fato, um desafio para nossa mente, nosso sistema racional, permitir ou conceber vizinhos, ou melhor, outros impérios serem erigidos num campo concebido antes como exclusividade de um só povo, de uma só tradição, de uma única forma de subjetividade;
é um desafio para nosso pensamento que tem no consenso seu eixo gravitacional, para nossa racionalidade secularmente amestrada segundo um complexo e uma dinâmica de construção de verdades pautados na submissão, no convencimento, no domínio, na doutrinação de catequese;
se nosso monoteísmo exclui por definição a possibilidade de existência de outros sistemas místicos, como lidar com essa abertura da antropologia/etnologia no seio do pensamento científico?
no princípio da dimensão política do perspectivismo, ou melhor, de sua natureza política, já que o perspectivismo define a natureza política do saber, só há produção de conhecimento ou antropologia quando há conflito;
talvez por isso, seu ponto de partida seja o conflito de sistemas de saber, entre naturalismo e animismo, objetividade científica e subjetividade xamânica, entre observação e descrição empiristas e regimes enunciativos imaginários de cantos místicos;

[1] forma de guerrear diferente da nossa, uma sociedade em que os guerreiros são sacrificados e marcados negativamente, marginalizados pelo paradigma de uma ordem autoritária e desigual;

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