22 novembro 2006

em minhas aulas, quando entro na problemática do sujeito e do discurso, inicio desconstruindo a imagem de sujeito de conhecimento que construímos pra nós mesmos e reproduzimos em nossos textos;
pra iniciar, dou um enunciado pra eles: em mil e quinhentos, o brasil foi descoberto por pedro álvares cabral;
então eu desconstruo esse texto: qual a voz que aqui fala: de quem é esse tempo, de quem é a idéia de descoberta, quem é o agente da ação;
enfim, com essa frase conseguimos traçar um modelo do falante na nossa ciência humana: um homem, branco, europeu, cristão, burguês, meia idade, urbano, falante do português;
traçado esse modelo da voz que opera esse discurso, afirmo que o enunciado é repetido todos os dias por falantes em escolas de todo o brasil: mulheres, negras, pobres, crianças, idosos, ateus, falantes de outros idiomas, pessoas do meio não-urbano e até índios;
a essa voz predominante em nossa sociedade chamamos voz média: ela atravessa os mais diversos segmentos e se manifesta nos diversos falantes, por exemplo, no apresentador do jornal nacional etc;
também demonstro que de uma hora a outra, de acordo com a conveniência, trafego da voz média ao discurso dos índios ou dos espoliados, das crianças ou dos deficientes;
dessa forma é que eu apresento pra eles o ofício do antropólogo: falar pelo outro;
um mesmo indivíduo: diversos sujeitos ou pessoas;

foucault reelabora a teoria do discurso com sua teoria do enunciado;
propõe uma revisão do sujeito conforme se apresenta, em parte, no primeiro capítulo de a verdade e as formas jurídicas;
passar da teoria do discurso para uma prática discursiva outra, que não fale apenas do outro, nem lhe dê voz apenas citando suas falas entrevistadas, mais sim que o coloque no debate epistemicamente, no mesmo nível epitêmico, e não no texto, onde quem define as regras continua sendo o autor;


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