20 novembro 2006

como pode um filme ser um instrumento da antropologia simétrica?
em primeiro lugar, por colocar o problema da forma em relação à política;
o lugar ocupado pela escrita na sociedade do século passado já não tem a mesma projeção, o mesmo efeito político que possui hoje;
numa sociedade multimídia, faz-se necessário elaborar a antropologia com outras mídias;
a forma tem uma dimensão política que só faz sentido no contexto da antropologia simétrica: a escrita como instrumento de quem apresenta as perspectivas, como o dono do poder de representar perspectivas, que submete o outro, desprovido desse poder, a sua abordagem, a qual ainda é colocada como definitiva, afinal de contas utilizou o método racional e científico;
não se vê assim que uma abordagem é uma perspectiva, passível de envelhecer, de ser limitada contextualmente, epistemicamente;
a antropologia simétrica evidencia por sua prática, por seu caráter pragmático, a natureza política da antropologia – contra-senso de uma antropologia política, já que toda antropologia é política;
essa natureza política é evidenciada na troca de olhares, na troca de conhecimentos entre os interlocutores, no caráter de autoria coletiva que o gestor da pesquisa consegue imprimir nela a partir de suas estratégias metodológicas;
por isso ela traz para a prática todo o conhecimento acumulado pela teoria do discurso;
reformular o autor, a concepção de autoria, é uma das propostas principais da antropologia simétrica, pois assim, redefinindo a imagem de conhecimento é que se redefine a imagem que fazemos de nós mesmos;
só assim é possível colocar em questão a imagem do homem ocidental em progresso infinito sobre as demais culturas, todas atrasadas, condenadas à extinção;
por isso essa prática é uma prática política, por colocar em questão o tanto os modelos de conhecimento como os de subjetividade que se constituem reciprocamente;
no entanto, não se restringe a uma forma política de pensamento antropológico e sim avança sobre a própria antropologia, visando circunscreve-la;
analisando a natureza do conhecimento científico num procedimento genealógico, constata-se que a natureza de seu poder é a mesma que a dos poderes de controle social a que ela retorna;
são esses poderes que investem na ciência, na antropologia fazendo com que ela tenha sentido na sociedade;
para que se estuda antropologia: numa análise genealógica, isso só se justifica como instrumento de produção de verdades que serve ao reforço das relações de poder como elas se encontram constituídas em nossa sociedade e, sobretudo, no modelo de sociedade em que se inspira;
a natureza do poder do antropólogo se define pelo poder constituído, pela reafirmação das estruturas de poder instituídas;
é para isso que serve o antropólogo à sua sociedade, para isso que ele foi criado;no âmbito dessa gênese, de sua criação, o antropólogo recebeu seu instrumental, com o qual se pretende que ao distribuir as vozes do texto, ocupe o lugar dos seus interlocutores na tribuna do texto, de seu discurso de antropólogo, quando toma a palavra para falar enquanto antropólogo, enquanto especialista;


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